Pessoal, liguem-se à Internet, mas não se desliguem do mundo, OK? – disse a um conjunto de miúdos numa passagem de ano. Depois ainda querem que eles se relacionem bem com as pessoas? Até numa passagem de ano? E depois vão todos a reboque!
Os computadores e a Internet são instrumentos maravilhosos, mas a vida real, a vida vivida também o é-e ainda mais maravilhosa. Descubram-no. Não é assim tão simples, nem tão fácil e, ainda, nem tão rápido. Mas não deixa de ter as suas essenciais compensações, vitais satisfações e demais valias.
Não podemos ser escravos, nem tão pouco reféns da informática. E a informática, também não é a panaceia para tudo o que vai mal – antes fosse!
Como costumo dizer a muito boa gente que, apesar de toda a extraordinária evolução tecnológica e todo o fabuloso mundo virtual – tão grande em capacidade e potencial, e tão pequeno, hoje em dia, em distância -, ainda há muito espaço e grandes necessidades para a enxada. De facto, conseguimos fazer uma infinidade de trabalhos maravilhosos e até extraordinários a partir de um simples teclado de computador, mas também existe uma enormidade de tantos e essenciais trabalhos que só com o apoio de uma enxada ou outros instrumentos mais elementares conseguiremos executar com o devido êxito.
Caríssimos, o que pretendo transmitir é que não me venham “abanar” com mais computadores para todo o lado como forma fácil de resolver mais este ou aquele problema concreto. De facto, em muitos casos, é necessário e até fundamental; mas não podemos esquecer toas as outras etapas e trabalhos paralelos, necessários ao próprio funcionamento do objectivo pretendido. Ou seja, não podemos tapar o sol com a peneira, confundindo meios com soluções, propostas com desempenho, repetições com criatividade e ferramentas com a própria matéria-prima.
Outro aspecto é o facto de passarmos a querer fazer tudo pelo computador, como se para tudo fosse sempre a melhor e única forma de actuação, a mais fácil, a mais funcional, a mais útil e a mais económica – o que é um tremendo erro. Pois, em muitos casos, eu posso usar a caneta, o livro, os olhos, as mãos, o fax, o telefone, o... e o contacto directo, de uma forma mais rápida, mais barata e mais cómoda.
A tarefa essencial é sabermos usar a nossa cabecinha para aquilo, que com certeza será o melhor para nós e para os outros, partindo de todos os meios que temos ao nosso alcance.
Apeteceu-me hoje escrever sobre isto, porque fartei-me outra vez de demorar mais do que um tempão a querer responder a um simples inquérito, que tinha que ser enviado via e-mail – aliás, não aceitavam de outra forma. Demorei (e toda a gente se farta, quando se demora) imenso tempo, só para abrir o correio electrónico – esquecem-se que há zonas, sobretudo, em horário laboral, em que é perfeitamente desgastante ter que recorrer sistematicamente a estes meios. O que vale é que sempre vou fazendo outras coisas enquanto vou aguardando “c-a-l-m-a-m-e-n-t-e”, até que... isto, assim, não dá!. E desisto ao fim de um tempo mais que exagerado, porque tenho mais que fazer. Assim e a gastar os últimos cartuchos da paciência, desligo o computador, ainda a tentar ficar calmo. De repente, começo a fazer contas ao tempo: ora bem, já vou na quarta tentativa gorada, só para abrir e responder a um pequeno inquérito, que me demorou cerca de vinte minutos a preencher. Dessas vezes, desisti duas sem conseguir abrir sequer a página, outra vez deu erro de comunicação, outra bateu na caixa de correio cheia.
Passada uma semana de pausa, lá vêm mais uns telefonemas a solicitar a urgência da resposta, pelo que se vai ver e de facto o formato tinha que ser alterado. Ok, alteramos de acordo com o solicitado – e esta parte, até correu bem – claro que também estava com uma boa ajuda ao lado (aumentando as perdas em pessoal para a casa), só que o envio esbarra invariavelmente em erro. Surgem mais telefonemas, mais tempo perdido, mais desgaste, mais alterações, mais um terceiro elemento a ajudar e, quando convencidos do sucesso da comunicação, eis que afinal, o quadro não apareceu no destinatário. Depois de eu já ter abandonado o barco, lá ficam os outros a verificar daqui, a verificar dali e, por fim, abandonam por sua vez o computador, desanimados pelo insucesso. É obra, tanto esforço, para tantas vezes, nada!
Comigo, é pelo menos a 5:ª vez que a história se repete em pouco tempo, para destinatários diferentes e com meios e finalidades diversas. E a solução final foi quase sempre a mesma, uma vez solicitei-a eu, as outras sugeriram-me do lado de lá depois de questionadas telefonicamente. Houve desculpas, pois havia alguns impedimentos no sistema que têm que ser revistos... blá, blá, blá... blá, blá, blá... ré, réteuteu, réteuteu, réteuteu... papapá, patati, patatá... pois, pois... será então preferível enviar por fax e tirar uma fotocópias para arquivo.
Que alívio, passado um instante e sem ajuda de ninguém, lá foram os inquéritos, os trabalhos, as folhas de cálculo, os relatórios...
Chega! Sejamos mais práticos por favor. Usemos as coisas para nos ajudarem, não para nos complicarem ainda mais o trabalho e a vidinha. Por favor, criem modos fáceis e mais rápidos, mundos simples e mais práticos, modus operandi lógicos e mais eficientes. É um dos modos de ser mais estúpidos dos portugueses; somos muito dados às novidades-e muito bem-, só que, simultâneamente, abandonamos logo – e muito mal – num modo estúpido e pacóvio, próprio dos mal-agradecidos e esquecidos, todas as anteriores vantagens e serviços!
Assim e apesar das vantagens mais que óbvias da era digital, e nas versões mais modernas e actualizadas, não podemos querer abandonar assim, do pé para a mão, todas as outras alternativas funcionais de trabalho, nomeadamente para quando e ainda, por vezes, as coisas não são assim tão rápidas, assim tão funcionais, assim tão disponíveis, assim mais económicas, assim tão à mão.
Questionando muita gente sobre esta problemática, práticamente todos estamos de acordo em que tudo deve caminhar, cada vez mais e mais rapidamente, para as novas tecnologias, mas quando estas estiverem mais desbloqueadas e suficientemente simplificadas. Porque também todos concordam que, muitas vezes, passam, passam... tempos infinitos e infernais agarrados ao teclado e a tentar, tentar... fazer algo que, pelos métodos mais convencionais, já estaria resolvido há séculos – modo de dizer é claro! E, depois, a produtividade, ressente-se, ah pois ressente!
Agora já compreendo como é que temos meio pais activo e mais um quarto agarrado a um teclado, “escondidinhos” atrás de um ecrã de computador – novamente, modo de dizer, é claro! Também assim é mais fácil esconder o que estamos a fazer, protegendo-nos, deixando no ar aquela impressão de elevado desempenho, muito atarefamento e por demais importância do objecto do nosso trabalho. Aliás, tenho a sensação de que estamos todos a fazer sempre coisas demasiado importantes que depois não nos sobra tempo algum para fazermos aquilo que é mais necessário e fundamental.
Evidentemente que se está a produzir, produzir bem... e a trabalhar, trabalhar muito... e a fazer, fazer mais. Porque isto e computadores ainda não é para qualquer um! Claro que só para os mais espertos, inteligentes e criativos – ainda e outra vez, modo de dizer é claro!
Mas mesmo assim, existe algum exagero, produzindo tanto e mais no papel por imprimir, e, talvez, um tanto a menos no concreto por fazer. E, ainda, fica a faltar a organização e a acção correspondente. Todavia, vamos a caminho do bom caminho. Tem demorado é muito a encontrá-lo e , depois, ainda, viramos por cada esquina, demoramo-nos por qualquer canto e metemo-nos por cada atalho!
Mais uns anitos a ver, pesquisar, consultar, visitar, procurar, viajar e... a esperar via Internet e depois talvez estejamos capazes de fazer e criar. E com certeza também já suficientemente cansados de tanto ecrã vazio de efeitos práticos, passando finalmente a utilizá-lo sempre que necessário e muito bem, em prol da real necessidade e ao serviço do melhor desenvolvimento. Temos que ter a noção do tempo precioso que se pode estar a desperdiçar, particularmente em horas e horas a mais, mas que também pode e deve ser medido em anos e anos a menos. Ah... e também já arranjámos mais uma desculpa, nomeadamente e entre outros, o próprio Estado, que já arranjou o culpado perfeito para a série de anomalias que vão acontecendo e nos vão atrasando a vida – pois, foi culpa do sistema informático.
De facto, os sistemas informáticos são sempre falíveis, particularmente quando nos dão jeito; outras vezes, são mesmo quase infalíveis, nomeadamente quando somos suficientemente bons e eficientes. Pois o problema é que ainda não nos sabemos servir devidamente de todo aquele potencial informático e depois... a culpa é do sistema informático!
Hoje, depois de passar, passar... tanto tempo sem conseguir... passei-me – é mesmo o termo mais apropriado!
Em plena ira, contive-me, reflecti e cheguei a esta conclusão: para as pessoas, até tenho tido muita compreensão e paciência – e ainda bem – ou, talvez, até seja aquele nadinha de sorte. Mas, com as máquinas e demais equipamentos, a minha sorte deve virar mesmo, pois a paciência esvai-se e eu não me entendo lá muito bem – e ainda mal! Também face ás teimosias disfuncionais e estupidificantes das coisas... que lá metemos, ou que nos exigem. Mais vale, em muitos casos, continuarmos a ir por “portas travessas”!
Depois, passada a fase da ira, ainda tive o discernimento suficiente para chegar a outra conclusão: se o meu carro, que tem mais de 20 anos, também funcionasse assim, vendia-o logo (isto se ainda alguém oferecesse algum dinheiro por ele)!
Exigência final: computadores e Internet em todas as escolas, repartições, serviços e tudo o mais – já!
Aviso final: mas atenção, não se deixem escravizar, nem nos façam seus reféns. A vida continua a ser muito bela e simples também cá fora.
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