Qual crise, qual “carapuça”.
De mim, é que não é a culpa!
Isso é o que todos dizem. É caso para dizer que somos todos uns inocentes. Coitados de nós, sempre vítimas de não se sabe muito bem o quê.
A culpa de nós é que não é!
Até somos todos muito responsáveis, bons profissionais, até fazemos coisas importantes e muitas vezes mais do que devíamos; portanto, definitivamente, não é nossa a culpa!
A culpa, não é dos patrões, dizem os patrões.
A culpa, não é dos empregados, dizem os empregados.
A culpa, não é dos privados, dizem os privados.
A culpa, não é da função pública, dizem os funcionários públicos.
A culpa, não é dos políticos, dizem os políticos.
A culpa, afinal e de facto, não é de ninguém!
Ou talvez seja. É isso, é do sistema.
Como é que nos poderíamos estar a esquecer do sistema, esse monstro horrível. Agora já podemos todos dormir mais descansados, pois mais nada poderemos fazer. A culpa, de nós é que não é!
Se calhar, não há é nenhuma crise. Até nunca vivemos tão bem. E ainda bem. Só não percebo é porque se insiste em falar da crise. A mim, o que me importa tão simplesmente, é que me deixem sossegadinho, no meu canto e não estejam para aí com ameaços, de que não me sobem o ordenado acima da inflação, de que me cortam na reforma, de que vou pagar mais de electricidade, de água, de gás, de juros, de portagens, de combustíveis, de propinas, de... e, mais e mais. Pronto, eu protesto, eu não aceito que assim venha a ser; porque a culpa não é minha!
É isso, a culpa a haver é dos outros. Claro e evidente, mas é que não tenho qualquer dúvida; de mim é que não é!
Já sei. A culpa é do capitalismo e das multinacionais. É do Euro e da União Europeia. É dos americanos e dos árabes. Dos pesticidas e do ambiente. Dos agricultores e dos comerciantes. Dos políticos e dos sindicalistas. Do mercado único e dos chineses. Da comunicação social e da CP e da TAP e da Cultura e da Educação e dos tribunais e dos engenheiros e da juventude e do futebol e dos estádios e dos construtores e dos concursos e das novelas e dos feirantes e dos... e dos...; de mim é que não é!
Porque é mesmo assim. A mim ninguém me dá nada. Eu trabalho, eu cumpro, eu pago, eu participo e ajudo, eu faço, eu..., eu sou um cidadão ideal, que já tem obrigações a mais e de mais; exijo é mais direitos e mais ordenado e menos trabalho e menos responsabilidade e que não me chateiem, nem me digam nada. E que me ouçam, que me ajudem mais, que ensinem melhor os meus filhos, que os levem a casa, que lhes paguem os livros e as refeições. Mais, exijo que não se pague nada nos hospitais e nas farmácias e que nos atendam quando nós pretendemos, sem esperas, com bons modos e com o melhor profissionalismo e competência. Aliás, também quero uma casa melhor e um bom emprego para o meu tio, a minha sobrinha e a minha cunhada. É que eles são todos bons, não é por serem da minha família; não lhes têm é arranjado um emprego compatível com as suas habilitações. Porque, para quem andou a estudar até ao 9º ano, não podem aceitar qualquer coisa. Ou então, que o façam eles. Eles? Mas eles quem? Ora, os outros – os culpados. Pois, se fossem todos como eu... isso é que era. Estávamos todos bem. Isso é que é a realidade. Mais uma vez, eu é que não tenho culpa!
Outra coisa; eu quero lá saber da construção europeia, da NATO, do buraco do ozono ou das espécies ameaçadas e do,... Bem, eu não fiz nada que prejudicasse fosse o que fosse; aliás, muitas das coisas que acontecem de mal, eu até só sei pelos outros e pelas televisões. Eu estou de consciência tranquila e isso é que conta; jamais a culpa foi minha!
E sobre a Europa? Mas, eu quero lá saber da Europa. Eu nem nunca saí de Portugal. E sobre isto e aquilo, evitam de perguntar mais; pois, não fui eu!
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