José Porvinho é aquele lado de mim, que também pode estar dentro de cada um de vós(nós)...


Festa na terra-S.Bartolomeu


Festa rija – um bom programa de facto.
Também como é preceito, ninguém quer ficar atrás de ninguém, aliás, todos se comprometem a fazer boa figura a dar o seu melhor,para também não darem azo a alguém ter que dizer.Vários dias, entre outras coisas,para aquele feliz reencontro e salutar convívio entre os filhos da terra. Para quem está fora e sobretudo para os emigrantes, mais do que o ansiado e mais que merecido regresso a Portugal; é o voltar à sua terrinha querida.
É o voltar a casa – à sua velha casa ou à nova casa, já “conquistada” no difícil labor de terras estranhas, mundo fora.
Assim, a festa da aldeia representa o auge daquele mês incompleto de férias e a procissão, mais do que o ponto alto da festa religiosa em honra do seu padroeiro; é aquele momento em que todos saem à rua e se revêem ao fim de um ou até, muitos anos.
De facto, na volta quase total à aldeia, que a procissão propicia, verificamos quem cá está este ano – salvo, algumas desonrosas excepções, que nem aos santos abrem as janelas!
Pois, por aqui também há desses. E o que era uma raridade noutros tempos, agora tem tendência, infelizmente, para se pegar.
São de facto, cada vez mais as pessoas que se “fecham em copas”, como que isolados do resto do mundo e fora do ritmo próprio das próprias vidas. Esses, também o pessoal já não começa a estranhar a sua ausência. Contudo, cá na minha aldeia e felizmente, as excepções são ainda, mesmo excepções, ao contrário de muitas outras – talvez por serem maiores, talvez por serem menos bairristas, talvez por terem mais com que se entreterem ou talvez por nada disto. Talvez, simplesmente, só por não serem tão genuínas, tão amigas, tão alegres, tão tradicionalistas, tão entusiastas, tão comunicativas, tão...
Mas se algum não aparece e se isola mais, há sempre quem diga:
- Parecem bichos fugidios, escondidos na sua toca.- “Fazem cá uma falta como a fome” – acrescenta outro.
De qualquer modo, a procissão ainda consegue ser, a mais cabal demonstração de fé de grande parte da população – dos paroquianos.
É a sua religiosidade e respeito, focada em preces, algumas promessas, o gosto de enfeitar e de ver, votos, desejos e orações de renovados pedidos.
É como até na religiosidade somos interesseiros – pedimos através da oração: é o “rogai por nós” da Avé Maria; o “venha a nós” do Pai Nosso; e até a Confissão acaba em mais um pedido, de “rogueis por mim a”!
Tudo no sentido da melhor recompensa da vida.Finda a procissão, digamos que toda a festa é mais livre e mais solta, cumprida que está a principal e essencial componente religiosa.
Para muitos, o respeito à ...já não é o que era – à semelhança de muitas outras coisas, aliás – mas também, ninguém lhe consegue ser totalmente indiferente. Seja como for, ainda hoje aperaltamo-nos a preceito, colocamos as melhores e mais vistosas colchas às janelas e varandas, primamos no aperfeiçoamento do jardim e na limpeza do arruamento.
Temos os nossos convidados a preparamos a melhor e mais convencional de refeição para o domingo da festa.
- O quê, assar-se o leitão para a segunda-feira?
Mas, é que nem pensar!
- Mas, nós para domingo já temos tanta comida!
- Mas, eu quero lá saber.
Onde é que já se viu guardar as coisas para segunda-feira.
Nem antes, nem depois.
Sempre tudo foi e há-de continuar a ser ao domingo. Ora essa – à segunda-feira!!!
Depois do abuso próprio do almoço principal; eis que se segue a meio da tarde toda a festa religiosa: missa seguida de procissão, até o Sr. Padre trás aquela opa especial – para as cerimónias especiais – toda bordada à mão, riquíssima e de um requinte... dourado.
Uma obra-de-arte de facto, as bandeiras de sempre abrem toda a procissão e igualmente os nossos velhinhos santos, orgulhosamente enfeitados, tentando quase sempre demonstrar o empenho e um gosto a superar os outros anos.
O povo gosta e aprecia, antigamente também era assim, só as roupas tinham que esperar e esperar, até que o dia da festa chegasse, para poderem finalmente ser estreadas.
Haviam todos os anos anjinhos e as ruas eram decoradas com cordões de bandeirolas multi-coloridas.
Ao longo dos tempos, a religiosidade marca o tempo e segura a tradição – só os figurantes vão mudando e se vão transformando.
Eu, “graças a Deus”, nunca falhei à procissão, desde bébé de colo – até penso que é a minha primeira fotografia; vestido de anjinho e ao colo do meu pai – passando pela criança que segurava o cordão de uma bandeira, até ao rapazote a carregar feito homem, um andor e agora, como ontem, a levar o pálio, que destaca e protege o Sr. Padre, com a cruz e o cálice entre punhos.
A música este ano, vinha com um passo mais lento do que o normal e o maestro ainda veio avisar o Sr. Padre, que era aquele o passo certo de uma procissão solene
– “ora querer ensinar a missa ao padre”, deve ter pensado o próprio – e continuou como se nada fosse; até que o maestro voltou à carga logo de seguida, mas agora a pedir:
- Se pudesse ir com o passo ligeiramente mais lento, mas, nem assim o pedido foi atendido. Assim, a banda aos poucos ia-se atrasando, para depois acelerar o passo entre o compasso das diferentes musicas ,mesmo assim, toda a procissão teve que estacar por duas vezes à espera da banda – coisa nunca antes presenciada por estas bandas, só que ao cruzarem a capela, lugar acima, é que os músicos se aperceberam do que ainda tinham para andar... e tocar. Evidentemente, que não mais se atrasaram daí por diante – era o atrasas!
Até passou a ser um tanto ao contrário, quase a “empurrarem” com o pálio para ritmos desaconselháveis. Sem querer e afinal já íamos todos mais rápido. Foi então, que disfarçadamente quis colocar à prova uma possível mudança de ritmo de toda a procissão e à que retardar o passo um nadinha, passando-o a arrastá-lo um tanto e como é possível um único elemento ao prender o pálio um pouco, provocar sem os outros darem conta, um ligeiro abrandamento na marcha de toda a procissão.
Experimentei, consegui e logo depois, prossegui(mos) como se nada fosse – e não foi!
Mas, o mais interessante de tudo e com todo o respeito e afirmação pela tradição e igualmente, com todo o respeito e devoção pelo acto religioso, foram as minhas impressões e observações ao longo de todo o percurso da procissão – todos os anos repetido.
Assim, comecei por reparar naquele Cedro do Atlas, exemplar único na aldeia; que todos os anos lhe aprecio o porte, o crescimento e a beleza, desde que o plantaram, era ele muito pequenino – já para aí à mais de uma dúzia de anos.
Este ano está pela primeira vez com frutificação, ainda mais bonito; preenchido, maduro, completo – atingida assim a sua maturidade sexual, logo de seguida, confirmo o sucesso daquela plantinha, que de ano para ano, vai enchendo e decorando numa sugestiva bordadura, aquela viela e várias frentes de casas, ganhando espaço e poder de aceitação entre os moradores, apesar da sua origem longínqua – da África do Sul.
As pessoas estão afeiçoadas a elas e rendidas perante a sua inegável capacidade, robustez e valor ornamental.
De facto, quantas plantas é que nascem assim por entre as pedras da calçada e os cantos e esquinas calcinados das ombreiras das portas?
Sem tratamento nenhum, lá nascem, rebentam, brotam todos os anos dum chão empedernido e se fazem grandes em três tempos, desdobrando-se numa floração abundante e bonita, para que por esta altura do ano, enfeitem a preceito toda aquela viela e várias frentes de casa.
Portanto, ela vai conquistando merecidamente espaço e granjeando simpatias; sendo agora uma imagem de marca daquele troço do lugar e das pessoas e casas, que lhe dão guarida.
Parece uma família (e é), que se instalou cheia de sucesso e que vai crescendo muito naturalmente com o passar dos anos.
Também lá mais para a ponta do lugar e já há muitos anos, lá apareceu aquela novidade de jardim, que levou toda a “procissão” a reparar em si e que de então para cá, foram aproveitados todos os seus filhos (novos rebentos com uma ponta de raiz), para ganharem um cantinho especial em muitos das casas da aldeia – tudo da mesma proveniência, tudo em família.
Aliás, um pouco como a própria aldeia nas suas trocas de produtos e naquele dar com gosto das suas coisas; sejam batatas, vinho, azeite, feijão verde, carne ou flores.
Sim, flores e plantas, arbustos, ramagens e fruta.
Tudo do que a terra dá e o vizinho e a família não tem por enquanto.
Reparei naquela casa fechada, a caminho do abandono – pois é verdade, o ano passado morreu o Ti... e repentinamente senti saudades da sua curvada e simpática imagem, acenando cordialmente.
Quando era mais novo, na posse de todas as suas capacidades físicas – pois, que homem de trabalho, depois, num instante estava preso às muletas e noutro instante, ficou preso ao travesseiro, até... que a morte o levou.
Avivaram-se-me de repente todas as suas imagens, e particularmente aquelas em que o via de pálio firmemente preso entre as mãos, depois em imagens repetidas ano a ano, já sem se poder mexer convenientemente à porta de casa. Primeiro amparado a uma bengala, depois de muletas e finalmente, em cadeira de rodas; mas sempre de sorriso cordial a esconder o sofrimento, na dependência dos outros e no enorme peso de todos os anos.
Reparei depois, naquela outra casa já a ameaçar ruir e a outra que já ruiu, feito agora estacionamento de grande jeito para toda a vizinhança, depois, aquela casa já acabada e outra, que nem pensava existir e que já se encontra toda erguida. “De quem é?” Perguntei de soslaio (dic) apontando com o queixo. “Ah, é!” Exclamei admirado para mim mesmo. Depois, continuei nas minhas cogitações. Só é pena, continuarem a edificar casas novas por cima dos muros antigos, para não terem que recuar com a casa e mesmo que esta fique com umas inestéticas esquinas vivas. Tudo num rigor de milímetros.
Depois, também é um castigo para deixar o carro nestas ruas mais apertadas, quer as pessoas que também vão na procissão, como as que assistem à sua porta ou janela ou ainda, nos entroncamentos, largos e outros pontos de passagem, lançam-nos – e nós retribuímos de igual modo – aquele cumprimento sorridente, de aceno suave ou com aquele típico piscar de olhos.
Pensava para comigo: “Eh pá, que já não via aquele à quase vinte anos, está bem conservado. Aquela, é que deve ser a sua mulher e aqueles serão os filhos – assim já tão grandes!
Nã, devem ser os sobrinhos! Ou talvez sejam mesmo os filhos, à velocidade com que eles hoje crescem!”Mais à frente, reparto naquelas duas miúdas e mais naquelas e noutras ainda: “Eh pá, tão giras que estão a ficar as filhas do... Miúdas, miúdas já eram; agora são é graúdas – umas mulheraças mesmo, de se lhe tirar o chapéu! Ficam na retina destes rapazes mais espigadotes, de certeza – só se forem cegos!
Aquelas ali, também já estão todas escaroladas.
-Ali o Ti Coiso, tão acabado que ele está. Teria andado doente ou quê? Aqueles rapazes acolá, que já nem os conheço – serão de cá? Pela pinta, devem ser os filhos do...
-Ali o Ti Manel e a Ti Estrudes, que se não fosse a procissão, acho que já não os via à séculos. Assim e até ver, sempre nos vamos cumprimentando todos os anos.
Eu também cá venho pouco e eles sempre foram de se enfiarem no seu ninho e ponto final parágrafo, assim...
Por vezes, trago daquelas saudades de quando era um pimpolho à solta – um verdadeiro menino de rua... mas de aldeia,de uma aldeia, em que ainda hoje toda a gente se conhece.
Pois, uma aldeia em que à quase quatro décadas atrás, se podia viver feliz pelas suas ruas e em que todas as casas eram de gente amiga, de portas quase sempre escancaradas e os seus donos, quase invariavelmente, a receberem-nos de braços abertos.
Sim, claro que haviam excepções, mas até a esses, eu no meu tempo de gaiato, lhe conheci a casa. Aliás, consegui na altura, entrar em todas as casas da aldeia –nenhuma me foi totalmente estranha; nem a da Dona... que estava sempre fechada e que não recebia ninguém. Também já na altura, era um exagerado vagabundo. Exagerado, mas feliz. Vagabundo, mas feliz.
Sempre de casa em casa, rua abaixo e rua acima, e pronto a entrar em quintais e em subir a Ribeira.
Lembro-me destes e doutros tempos e da procissão de então , de como ela pouco mudou de então para cá.
É, a procissão faz-nos lembrar esses outros tempos de uma forma muito peculiar,de vez enquando, lá se fazem umas visitinhas a uma dessas casas amigas e repletos daqueles amigos de sempre.
Particularmente aquando da outra data grande lá na terra, também domingo à tarde – a visita Pascal. E tantas outras casas que ficaram para trás – para outra altura, para a próxima visita à aldeia.
A aldeia, pelo menos a minha; que não é tão pequena como isso, tem ainda muita vida própria, propiciando fáceis encontros e mais programas ainda por acontecer; nem tão grandes como isso, em que aí as pessoas já não sentem da mesma maneira e já não se identificam tanto como isso. Até as cumplicidades e os encontros são mais restritos e menos comuns, perdendo-se com facilidade, os motivos e as razões do mais são convívio e do mais salutar bairrismo.
Então para quem está longe e durante muito tempo, chega a ser enternecedor o reencontro com a aldeia.
Encontra todo um povo de braços abertos, num espectacular acolhimento, ao longo das ruas, os verdes recolhidos e espalhados abundantemente por todo o chão, emprestam ao ar um aroma especial e único nestes momentos.
Comecei a dar conta do cheiro forte do alecrim pisado, que apesar de muito agradável, cheira a Páscoa.
De facto, é esse o arbusto usado quase em exclusivo na Páscoa.
A Páscoa tem, de facto, o cheiro do alecrim, conforme íamos avançando, os verdes mudavam entre as variedades mais corriqueiras, as mais típicas dos campos locais e uma ou outra cultivada nos jardins das casas.
As mais aromáticas para mim, são o sempre muito agradável funcho, a erva-cidreira e a hortelã. Esta, julgo que até nem era nada comum encontrá-la a verdejar o chão procissional, neste decoroso e agradável tapete. Mas, pensando melhor, o cheiro mais típico da Festa da aldeia, sempre foi o da hortelã.
Da hortelã que levam os negalhos. Ah, que saudades daquela caçoila de negalhos, assada juntamente com a chanfana.
Tudo cheiros e sabores muito próprios da Festa de uma qualquer aldeia da Bairrada.
Antigamente, a festa começava logo na segunda-feira antes, com os rebanhos a invadirem as ruas, como um feliz anúncio do que estava para vir.
A cabra era cuidadosamente escolhida, para na quinta-feira já se ter a chanfana assada. Também deve ser por isso, que agora as encontramos espalhadas pelo chão; pois os negalhos são hoje em dia, uma iguaria cada vez mais rara.
De facto, os negalhos sempre deram muito trabalho. Tanto, que agora já não há praticamente quem os faça – pelo menos na minha família, para nossa pena.
Dei ainda conta daquele arbusto mais raro e com um porte já digno de registo, que o fazia já um exemplar único; mas que lhe deram uma poda daquelas que não se fazem.
Só que pelos vistos, estava a tapar aquela janela, no qual parece que ninguém lá fica, mas enfim... ah, também se não fosse assim, agora não se via a janela!
Passada a volta do Carril, na quinta maior, os potros nascidos o ano passado, estão agora uns elegantes folgazões. Lindos.
Que beleza fabulosa é uma família de equinos à solta e logo com gémeos.E como sempre lá continua aquele telhado, orgulhosamente composto com as abóboras maiores e mais bonitas da produção do ano, é para que toda a gente as veja e saiba, quem é que é capaz de ter das melhores novidades e obter da terra os melhores troféus.
De facto, aquelas abóboras fantásticas, assim dispostas no ponto mais alto do palheiro e bem à vista de quem passa; são verdadeiros troféus entronizados e no melhor palco.
Assim, não só se conservam melhor, podendo serem guardadas pelo máximo de tempo possível, como regalam a vistinha deles e de quem passa.
Reparando melhor; de facto, são exemplares dignos de serem expostos.
Aliás, soube mais tarde, que já lhe tinham comprado três das maiores e mais vistosas, para estarem expostas num restaurante da zona.
Isso também é mais um troféu para a própria aldeia.
Sim, sim; porque aldeia que dá vinho daquela qualidade, também tem tudo para dar abóboras daquele calibre.
Noutra curva na ponta do lugar, dei conta do corte daquele pinhal lindo, que conhecia praticamente como tal, desde menino.
É uma perda óbvia, que me entristeceu, mas teve que ser, pois já tinha porte e idade mais suficientes e um ou outro pinheiro a ameaçar cair, tal era a pendente que já tinha ganho. Também com as árvores é a lei da vida – aqui compreensível o seu corte raso, mas logo de seguida, alegrei-me com a visão, ao longe, de uma nova vinha.
Sobretudo, porque também aumentou a distância das casas até à floresta mais sensível aos mais que muitos e nefastos incêndios florestais, logo de seguida, deparo com uma vinha bem tratada, carregada de boas uvas, numa abastança rica que o tempo há-de cuidar de amadurecer convenientemente.
De qualquer modo, este ano já vão mais adiantadas e com a chuva da semana passada, que veio mesmo a calhar, segundo me testemunharam já, alguns dos muitos peritos locais, o ano – tudo o indica – irá deixar um vinho de muito boa qualidade.
Não, como os que ficam gravados como de referência e lembrados pela sua qualidade especial; mas também este ano a produção é maior e como tal...Mais à frente aquele pedaço de vinha a entrar na decrepitude própria do mal-amanhada:
Pois, pois, esta vinha é do... e ele agora já não pode.
Tão bem zelada que ele trazia sempre a fazenda toda – e era (é) mais que muita.
É, vai tudo atrás dos donos e é bem certo – imaginava já eu as conversas ocorridas a propósito deste caso, por muitas das casas da aldeia.
Também aqui nada de novo – volta a ser a lei da vida e das prioridades.
Pensando melhor e julgando com isenção; é normal, é natural e também não é assim uma verdade absoluta,pelo menos, cá por terras bairradinas, até que há muita boa gente mais jovem cheia de genica a fazer coisas por tanto chão de terra fora.
Mais, mérito lhe seja dado, a fazerem tão bem como nunca os seus digníssimos antecessores o conseguiram.
Aqui ainda continuamos a ter renovação de quem sabe, de quem faz e de quem quer mais.
Terra grande, afinal!
Gente grande, a fugir ao triste fado nacional de abandono sistemático dos territórios mais rurais do nosso país.
Existe empreendorismo, inovação, marketing e tudo o resto.
Outras impressões ficaram por observar com toda a certeza e outras, muitas, ficam aqui por contar.
Ordeiramente a procissão recolheu.
O povo também recolheu, alguns a suas casas, outros ao café, para reporem agora as conversas em dia e os líquidos entretanto perdidos.
Isto apesar do abastecimento de água que os mordomos foram criteriosamente distribuindo pelos mais sedentos.
Mas, por ocasiões da Festa, nada como uma garrafinha bem fresquinha para satisfazer todos os muitos bebedores, mais sequiosos e ansiosos.
O convívio é ... e os reencontros são fraternos – alguns ao fim de muito tempo – passam agora às agradáveis palavras e àqueles abraços de todo o tamanho.
- Chega-me cá esses ossos. Então sempre bons? E a família?
- Felizmente, tudo bem.
- E logo vais ao arraial?
- Claro; alguma vez faltei?
- Então logo bebemos mais um copo.
- Ai, isso é mais que certo. Se fosse só um!
- É os que forem, desde que nos portemos bem!
- E alguma vez nos portámos mal!?
A festa lá continuou num ambiente de arromba e todas as gerações lá continuam a irem... divertir-se.
- Que boa que este ano está a Festa – diz alguém, como também já foi dito por todos os outros anos passados, os outros ouvem e concordam.

Também são eles que sempre fizeram a Festa assim... bonita, grande e especial.

2008/Grada

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