José Porvinho é aquele lado de mim, que também pode estar dentro de cada um de vós(nós)...


A Arte pela Escrita

A Arte pela Escrita, colectânea de vários autores , foi apresentada no dia 04 de Outubro, pelas 14h.30, no Clube Literário do Porto, a qual conta também com a participação de José Porvinho.

ESPERTEZA

Eu, em cima dos meus quarenta e tal de experiência adquirida, estava ciente que ao cortar os ramos inferiores daquela jovem nogueira, as cabras já não lhe chegariam à copa e há que tirar a rede já meia esgaçada que ainda a protegia.Assim, achei (esperto!!!) que já podia voltar a pôr as cabras para dentro; isto apesar de saber que ali, era a tentação nº1 delas e daí o actual estado – miserável – com que se encontrava aquela rede e as pontas dos ramos entretanto cortados. Contudo e na minha esperteza saloia do momento, avaliei mais uma vez o risco e num último retoque, lá fui cortar mais uma andada de ramos; concluindo a seguir, que agora era garantido: a nogueira estaria segura e a salvo. Livre de qualquer perigo. E foi assim - a cabra maior foi logo direitinha à nogueira, caminhou tranquilamente sobre o seu tronco, dobrando-a debaixo de si e na maior, atingiu toda aquela aliciante paparoca. Podia ter salvo a nogueira, mas rendi-me à esperteza da cabra e deixei-as descansadamente apreciar tamanho manjar. Simples e delicioso e até à última folha!Que ignorante a minha esperteza a comparar com a delas. Nomeadamente, por não ter em conta toda a máxima experiência acumulada e durante milhões de anos, de quem à falta de mãos, especializou outros argumentos!Bem vistas as coisas, a nogueira ali também não estava bem e assim, foi menos uma preocupação para mim e menos uma dor de cabeça para elas!Eis a prova provada, em como não devemos fazer juízos precipitados, nem julgar nnuuuunca os conhecimentos dos outros! E muito menos, desvalorizá-los. E nunca subestimem ninguém... nem uma qualquer cabra!



Apoio : EscritArtes

Temos...

Temos que dignificar o mundo rural. E se não for com obras, que o seja ao menos, por palavras.É que depois de tanto rapa, tira, põe e deixa; o melhor mesmo será acreditar, que não é difícil fazer melhor. E se melhorarmos, estamos a contribuir para o fundamental equilíbrio e para um eficaz aumento da esperança do nosso viver. Apanhando o caminho certo.
O caminho que teremos que saber trilhar a partir das oportunidades, que ainda vamos tendo.E o que mais nos custa, é dizerem-nos que sim, que fazem, que atendem, que... nada! Não nos ligam é... nenhum. Se tiver que ser, que seja; mas ao menos, não nos façam de tanços – isso, é que não! Que nós sempre temos o nosso “status rural”; nomeadamente pela presença física de cá vivermos; de cá contribuirmos; de cá contarmos.É que todos, no mínimo, temos direito às nossas palavras de opinião – asneira incluída, é claro!

UM DIA... NA ESCOLA

Um dia na escola e ao contrário do costume, e de muitos outros meninos; lá fiz um desenho que quis encher – do céu ao mar, de alto a baixo e por todo o lado.E assim, lá enchi aquela colina com prédios e mais prédios, estradas e mais estradões, pontes e muitas estações. No céu, aviões de todos os tamanhos e helicópteros. Depois que grande estádio de futebol eu criei e outras grandes obras eu fiz... no meu desenho.Desenhei ainda um grande aeroporto e um comboio dos mais modernos, igualzinho aos que já haviam no Japão. E no mar, ainda desenhei grandes barcos, torres e até muitos submarinos.Escusado será dizer, que nesse meu desenho, faltou-me espaço e tempo para as minhas habituais árvores, aves, peixes e casinhas... e até para as estrelas e/ou nuvens no céu – conforme fosse dia ou noite, ou estivesse melhor ou pior tempo. E ainda, para as crianças livremente a brincar no campo e para o barquinho do pescador no rio.Ai, ai – que os nossos políticos parecem querer satisfazer todos os seus desenhos de crianças!

PROMESSAS

Primeiro, quem é que disse que as promessas eram para cumprir?
Segundo, quem é que ainda acredita em promessas?
Terceiro, já viram alguém ficar pobre por prometer – como dizia um senhor lá da minha terra.
Quarto, quem ainda se lembra daquilo que foi prometido?
Quinto, e quando alguém não cumprisse as suas promessas, se ao menos as pagassem!
Sexto e último; por favor, não se preocupem tanto em cumprir muitas das vossas precipitadas, delirantes e incautas promessas, meus senhores!Paroles, paroles... quem as não diz!
Promessas, promessas... quem as não tem!

TERRA QUE SENTE

O que faz uma terra, não são aqueles que a tomam como sua; mas sim, os que a dão como pertença aos outros.
Quem faz uma terra, não são aqueles que a expurgam; mas sim, todos os que a criam.
E o que sente uma terra?
Pois, sente o que lhe damos e também o que lhe tiramos; além de registar tudo nos seus anais!

QUANDO O SENTIMENTO TEM TODO O SENTIDO

Nunca podemos menosprezar os sentimentos de uma pessoa; quanto mais, os de todo um povo!Podem-se contrariar lógicas e vontades.Podem-se retardar atitudes e convicções.Podem-se transformar ideias e ideais.Podem-se não se satisfazer razões e projectos.Mas não se podem transformar, comandar, adiar, contrariar e muito menos, menosprezar aquilo que verdadeiramente as populações passam, sentem e sofrem – se for caso disso. Quanto mais, retirar-lhes aquilo que têm e conseguiram com o amor próprio e numa partilha permanente, a causas, feitos, obras, sonhos, terras e pessoas!A decepção sentimental, a rejeição, o abuso e o menosprezo, dói de corpo inteiro e ainda passa muita dessa dor para os outros! Portanto, senhores decisores e altos responsáveis, não dêem cabo das dinâmicas e não cortem com as emoções – muito menos, a direito. E não se esforcem tanto para arranjar alternativas frias, incoerentes e que beliscam a capacidade colectiva e põem em perigo os seus mais intrínsecos, vividos e sentidos sentimentos.O sentido desses sentimentos é total e a sua dimensão é verdadeiramente incomensurável. Portanto, meçam bem o que fazer e como o fazer; e evidentemente, sem nunca menosprezarem, porventura, o que de mais nobre e forte as populações possam ter – os seus sentimentos. Eles podem ter uma profundidade, uma força e um alcance indescritível e inimaginável numa pessoa; quanto mais, quando se trata de todo um povo!Como qualquer sentimental, o povo também não aceita desculpas baratas e decisões de lesa pátria; quanto mais, o menosprezo pelo valor do que sentem. E que quando é muito e grandioso, então é melhor reconsiderar; senão o sentimento é capaz de tudo – até de apagar a razão e de fazer mover moinhos. É nessas ocasiões, que por vezes, acontece história e já ocorreram desgraças e/ou se fizeram grandes maravilhas.A vida carregada de sentimento é imprevisível e pode ser de uma grandiosidade, que pode elevar a própria realização do viver, até aos limites da excelência.

Inducação

O grande sucesso da Educação; oh, desculpem-me da: Inducação; advém de forçarem ao máximo os professores e as Escolas a não poderem dar negativas e depois, e depois… e depois, passam-nos à mesma. Mesmo que tenham meia dúzia delas!
Meia dúzia meeessmmooo!! E até mais!!!
De facto… formidável, pedagogicamente brilhante, resultados fabulosos e a segurança nos trinques!
Bem… agora a sério – de verdade, uma desgraça!!! Daquelas asneiras grossas sem perdão, porque vamos pagá-las todas! Todinhas mesmo!! Durante todo o tempo futuro e sem grande remissão para melhoras!Governem bem ou governem mal; mas não nos venham dar sermões sobre as tretas do sucesso escolar. Governem como podem e sabem (ou não sabem) mas governem sem desculpas de mau pagador e muito menos, de gabanços ridículos!!
Desculpem a sinceridade, mas falcatruas destas, que toda a gente sabe e percebe? Ao menos, podiam ser mais discretos e ficarem caladinhos. Ou então, dizerem mesmo a verdade… que é para fazermos melhor figura para os de fora, que não sabem nem podem confrontar os nossos números com o nosso saber.
Pois, governem de qualquer jeito, mesmo com algumas falcatruas; mas por favor, façam-nas bem feitas e não nas venham dizer!!
Que lata!
Está certo: o sucesso da Inducação está mesmo, é no modo fácil de a forjar!

Emprego

Como é que muita gente
Aguenta o tempo a fazer
De conta que faz?
São incansáveis à espera
Do avanço monótono e
Taciturno do horário laboral.
Que esforço insuportável
Que é necessário fazer,
Para aguentar todo o tempo a não fazer.

E carregam com o peso
Dos minutos incontáveis,
Num fardo de produto nenhum!

(Livro- Inconfidências e Díario de Bolso 2005)
De 2005 a 2008 pareçe que afinal nada mudou!