José Porvinho, pseudónimo de José Pais, nascido em Grada, Anadia em 1964; tirou Eng.ª Florestal em Vila Real (UTAD) e quando tem tempo e a espaços, é uma série de outras coisas. Iniciou-se com este livro: "Inconfidências e..."; digamos que é o seu Diário de Bolso 2005, editado pela Editora Artescrita e apresentado no encerramento da Feira de Livro de Góis em 25 de Maio último, no dia 31 de Maio no Museu do Vinho de Anadia e no dia 5 de Junho na Biblioteca Municipal da Mealhada. Será entretanto feita nova apresentação em Castanheira de Pêra, no dia 4 de Julho, feriado municipal nesta simpática e bonita vila de Interior, em plena encosta sul da Serra da Lousã - local de trabalho e de residência do autor. O livro tem o preço de 14 € neste momento com 10% de desconto e é totalmente impresso em papel reciclado, podendo ser adquirido através de pedido para o a Wook atraves do site da Porto Editora
JOSE PORVINHO
Campanha de Arborização
FICA o convite para passarem um dia diferente no Coentral com a Campanha de Arborização, integrada no Programa da Quercus com a parceria do ICNB, AFN, Corpo Nacional de Escutas e Agência Portuguesa do Ambiente: Criar Bosques, conservar a biodiversidade.A plantação irá ter lugar na freguesia do Coentral, concelho de Castanheira de Pêra, em plena Serra da Lousã, no fim-de-semana de 14 e 15 de Fevereiro. Venham criar Natureza.Voluntariem-se e divulguem.As árvores a plantar são as da nossa floresta autóctone, replicando algumas que já lá constam e recriando daquelas que já lá deveriam estar.A Lousitânea - Liga de Amigos da Serra da Lousã, a Junta de Freguesia do Coentral, a Quercus e o ICNB, convidam a que se juntem a nós esta iniciativa.Até 14 (sábado), pelas 9.30 h no Largo do CoentralNão existem desculpas para que não colaborem,Participa e trás um Amigo/a também. De amigo em Amigo , de boca em boca, de mensagem em mensagem, esta campanha vai crescendo a nível das Entidades Colaborantes. Um Bem Haja a todos.
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José Porvinho
(José Pais)
http://www.joseporvinho.net/
http://www.joseporvinho.net
O meu novo endereço na internet, onde espero que me visitem:
http://www.joseporvinho.net
“BONS ALUNOS”
Temos que deixar de ser aqueles “bons alunos”, que dizem que sim a tudo; mas que depois e perante a iminência de más notas e respectivas penalizações, proclamam por um teste de recuperação… salvador. E aí, se pudermos enganá-los com provas bem recheadas de resultados satisfatórios, muito bem; senão vamos ver se passamos na mesma, iludindo os avaliadores/decisores ou até, cabulando pelos nossos vizinhos.
Continuamos com aquele estigma bacoco, do “bom aluno”, bem comportado é certo, mas que nem os trabalhos de casa consegue fazer sozinho. E para dar aquela boa (falsa) imagem de “bom aluno”, lá conseguimos passar de etapa em etapa, com aproveitamento estatístico; mas onde a aprendizagem e a boa preparação, deixam muito a desejar! Neste contexto, dizemos que sim às instâncias europeias e dizemos que não, porque não, aos nossos. Depois não deixamos que se faça: não se pode; são as regras comunitárias; são os tratados que assinámos; são as metas por cumprir; são...
E nós?
E cegamente, continuamos a fazer de “bons alunos” burros – obedecendo incompreensivelmente e sem adaptar, nem corrigir e muito menos, valorizar, apoiar e criar – qual asno mais obediente!
Assinamos protocolos e programas, assumimos planos e mercados, mas depois enganamo-nos a nós e iludimos os outros; fazendo por fazer, desperdiçando oportunidades e mais investimentos; e não fazendo o que se devia fazer, para melhorar e saber aproveitar, ainda mais esta e talvez, a última época especial – o exame redentor!
DIGA?
Solidão - 18/08/2005
Solidão é incompatibilidade,
De ser e de estar;
Corroendo num mar de gente,
De naufrago sobrevivente.
Solidão é atrevimento,
Desespero que fortalece,
A armadura da capacidade,
De sofrer e passar.
Solidão é escolha ou azar,
Independência aos limites;
Afirmando-se indiferentemente,
Das incompreensões sociais.
Solidão é razão,
De dar negas e dizer sim,
Afirmando e querendo,
Estar só outra vez.
Solidão até que horas,
Ou por quantos mais dias;
Solidão até ao fim,
Aguentando estoicamente.
Solidão é solidez e essência,
Por procuras incessantes
E fugas desconcertantes,
Da nossa própria existência.
Solidão é amargura,
De um vazio por dentro,
Que nos envolve de fardos,
Tão difíceis de carregar.
Solidão é estigma doentio,
Do orgulhoso anti-social,
Teimosamente ancorado,
A uma cela virtual.
Solidão é auto-condenação;
Flagelados e fechados por casa,
Escondidos na multidão,
Amontoados pela vida.
Solidão são falas mudas,
Porque só as ouvem surdamente;
No desespero de quem só sente,
O vazio do seu próprio eco.
Solidão é praga social,
Antítese do que apregoamos;
Fazer tudo por todos,
Mas abandonado, apesar de tudo.
Solidão é desconforto,
De se estar sempre a mais,
Entre tudo e todos e
Até no próprio recolhimento.
Solidão também é sossego,
Na procura e na análise,
Do recolhimento à introspecção,
Na oração e pelo pensamento.
Solidão é fuga constante,
Por quem não é perseguido
E muito menos percebido,
Por todos os seus... amigos.
Serão as indecisões da vida,
As incógnitas do destino
E as decepções do passado,
Que nos tornam incongruentemente sós?
Por fim, encontramos na solidão,
O reencontro a sós,
Capaz de observar e de discernir,
Para onde ir e com quem.
AFINCO
A vontade tem-se mantido intacta, só o tempo é que vai prejudicando esse meu afinco.
O tempo parece que escorrega – esvai-se e não me está a ajudar. Só espero, é que como o tempo, a vontade e esse afinco não passem… nem escorreguem!
A Arte pela Escrita
A Arte pela Escrita, colectânea de vários autores , foi apresentada no dia 04 de Outubro, pelas 14h.30, no Clube Literário do Porto, a qual conta também com a participação de José Porvinho.
ESPERTEZA
Eu, em cima dos meus quarenta e tal de experiência adquirida, estava ciente que ao cortar os ramos inferiores daquela jovem nogueira, as cabras já não lhe chegariam à copa e há que tirar a rede já meia esgaçada que ainda a protegia.Assim, achei (esperto!!!) que já podia voltar a pôr as cabras para dentro; isto apesar de saber que ali, era a tentação nº1 delas e daí o actual estado – miserável – com que se encontrava aquela rede e as pontas dos ramos entretanto cortados. Contudo e na minha esperteza saloia do momento, avaliei mais uma vez o risco e num último retoque, lá fui cortar mais uma andada de ramos; concluindo a seguir, que agora era garantido: a nogueira estaria segura e a salvo. Livre de qualquer perigo. E foi assim - a cabra maior foi logo direitinha à nogueira, caminhou tranquilamente sobre o seu tronco, dobrando-a debaixo de si e na maior, atingiu toda aquela aliciante paparoca. Podia ter salvo a nogueira, mas rendi-me à esperteza da cabra e deixei-as descansadamente apreciar tamanho manjar. Simples e delicioso e até à última folha!Que ignorante a minha esperteza a comparar com a delas. Nomeadamente, por não ter em conta toda a máxima experiência acumulada e durante milhões de anos, de quem à falta de mãos, especializou outros argumentos!Bem vistas as coisas, a nogueira ali também não estava bem e assim, foi menos uma preocupação para mim e menos uma dor de cabeça para elas!Eis a prova provada, em como não devemos fazer juízos precipitados, nem julgar nnuuuunca os conhecimentos dos outros! E muito menos, desvalorizá-los. E nunca subestimem ninguém... nem uma qualquer cabra!
Apoio : EscritArtes
Temos...
Temos que dignificar o mundo rural. E se não for com obras, que o seja ao menos, por palavras.É que depois de tanto rapa, tira, põe e deixa; o melhor mesmo será acreditar, que não é difícil fazer melhor. E se melhorarmos, estamos a contribuir para o fundamental equilíbrio e para um eficaz aumento da esperança do nosso viver. Apanhando o caminho certo.
O caminho que teremos que saber trilhar a partir das oportunidades, que ainda vamos tendo.E o que mais nos custa, é dizerem-nos que sim, que fazem, que atendem, que... nada! Não nos ligam é... nenhum. Se tiver que ser, que seja; mas ao menos, não nos façam de tanços – isso, é que não! Que nós sempre temos o nosso “status rural”; nomeadamente pela presença física de cá vivermos; de cá contribuirmos; de cá contarmos.É que todos, no mínimo, temos direito às nossas palavras de opinião – asneira incluída, é claro!
UM DIA... NA ESCOLA
Um dia na escola e ao contrário do costume, e de muitos outros meninos; lá fiz um desenho que quis encher – do céu ao mar, de alto a baixo e por todo o lado.E assim, lá enchi aquela colina com prédios e mais prédios, estradas e mais estradões, pontes e muitas estações. No céu, aviões de todos os tamanhos e helicópteros. Depois que grande estádio de futebol eu criei e outras grandes obras eu fiz... no meu desenho.Desenhei ainda um grande aeroporto e um comboio dos mais modernos, igualzinho aos que já haviam no Japão. E no mar, ainda desenhei grandes barcos, torres e até muitos submarinos.Escusado será dizer, que nesse meu desenho, faltou-me espaço e tempo para as minhas habituais árvores, aves, peixes e casinhas... e até para as estrelas e/ou nuvens no céu – conforme fosse dia ou noite, ou estivesse melhor ou pior tempo. E ainda, para as crianças livremente a brincar no campo e para o barquinho do pescador no rio.Ai, ai – que os nossos políticos parecem querer satisfazer todos os seus desenhos de crianças!
PROMESSAS
Primeiro, quem é que disse que as promessas eram para cumprir?
Segundo, quem é que ainda acredita em promessas?
Terceiro, já viram alguém ficar pobre por prometer – como dizia um senhor lá da minha terra.
Quarto, quem ainda se lembra daquilo que foi prometido?
Quinto, e quando alguém não cumprisse as suas promessas, se ao menos as pagassem!
Sexto e último; por favor, não se preocupem tanto em cumprir muitas das vossas precipitadas, delirantes e incautas promessas, meus senhores!Paroles, paroles... quem as não diz!
Promessas, promessas... quem as não tem!
TERRA QUE SENTE
O que faz uma terra, não são aqueles que a tomam como sua; mas sim, os que a dão como pertença aos outros.
Quem faz uma terra, não são aqueles que a expurgam; mas sim, todos os que a criam.
E o que sente uma terra?
Pois, sente o que lhe damos e também o que lhe tiramos; além de registar tudo nos seus anais!
QUANDO O SENTIMENTO TEM TODO O SENTIDO
Nunca podemos menosprezar os sentimentos de uma pessoa; quanto mais, os de todo um povo!Podem-se contrariar lógicas e vontades.Podem-se retardar atitudes e convicções.Podem-se transformar ideias e ideais.Podem-se não se satisfazer razões e projectos.Mas não se podem transformar, comandar, adiar, contrariar e muito menos, menosprezar aquilo que verdadeiramente as populações passam, sentem e sofrem – se for caso disso. Quanto mais, retirar-lhes aquilo que têm e conseguiram com o amor próprio e numa partilha permanente, a causas, feitos, obras, sonhos, terras e pessoas!A decepção sentimental, a rejeição, o abuso e o menosprezo, dói de corpo inteiro e ainda passa muita dessa dor para os outros! Portanto, senhores decisores e altos responsáveis, não dêem cabo das dinâmicas e não cortem com as emoções – muito menos, a direito. E não se esforcem tanto para arranjar alternativas frias, incoerentes e que beliscam a capacidade colectiva e põem em perigo os seus mais intrínsecos, vividos e sentidos sentimentos.O sentido desses sentimentos é total e a sua dimensão é verdadeiramente incomensurável. Portanto, meçam bem o que fazer e como o fazer; e evidentemente, sem nunca menosprezarem, porventura, o que de mais nobre e forte as populações possam ter – os seus sentimentos. Eles podem ter uma profundidade, uma força e um alcance indescritível e inimaginável numa pessoa; quanto mais, quando se trata de todo um povo!Como qualquer sentimental, o povo também não aceita desculpas baratas e decisões de lesa pátria; quanto mais, o menosprezo pelo valor do que sentem. E que quando é muito e grandioso, então é melhor reconsiderar; senão o sentimento é capaz de tudo – até de apagar a razão e de fazer mover moinhos. É nessas ocasiões, que por vezes, acontece história e já ocorreram desgraças e/ou se fizeram grandes maravilhas.A vida carregada de sentimento é imprevisível e pode ser de uma grandiosidade, que pode elevar a própria realização do viver, até aos limites da excelência.
Inducação
O grande sucesso da Educação; oh, desculpem-me da: Inducação; advém de forçarem ao máximo os professores e as Escolas a não poderem dar negativas e depois, e depois… e depois, passam-nos à mesma. Mesmo que tenham meia dúzia delas!
Meia dúzia meeessmmooo!! E até mais!!!
De facto… formidável, pedagogicamente brilhante, resultados fabulosos e a segurança nos trinques!
Bem… agora a sério – de verdade, uma desgraça!!! Daquelas asneiras grossas sem perdão, porque vamos pagá-las todas! Todinhas mesmo!! Durante todo o tempo futuro e sem grande remissão para melhoras!Governem bem ou governem mal; mas não nos venham dar sermões sobre as tretas do sucesso escolar. Governem como podem e sabem (ou não sabem) mas governem sem desculpas de mau pagador e muito menos, de gabanços ridículos!!
Desculpem a sinceridade, mas falcatruas destas, que toda a gente sabe e percebe? Ao menos, podiam ser mais discretos e ficarem caladinhos. Ou então, dizerem mesmo a verdade… que é para fazermos melhor figura para os de fora, que não sabem nem podem confrontar os nossos números com o nosso saber.
Pois, governem de qualquer jeito, mesmo com algumas falcatruas; mas por favor, façam-nas bem feitas e não nas venham dizer!!
Que lata!
Está certo: o sucesso da Inducação está mesmo, é no modo fácil de a forjar!
Emprego
Como é que muita gente
Aguenta o tempo a fazer
De conta que faz?
São incansáveis à espera
Do avanço monótono e
Taciturno do horário laboral.
Que esforço insuportável
Que é necessário fazer,
Para aguentar todo o tempo a não fazer.
E carregam com o peso
Dos minutos incontáveis,
Num fardo de produto nenhum!
(Livro- Inconfidências e Díario de Bolso 2005)
De 2005 a 2008 pareçe que afinal nada mudou!
A CULPA NÃO É DE NINGUÉM
Qual crise, qual “carapuça”.
De mim, é que não é a culpa!
Isso é o que todos dizem. É caso para dizer que somos todos uns inocentes. Coitados de nós, sempre vítimas de não se sabe muito bem o quê.
A culpa de nós é que não é!
Até somos todos muito responsáveis, bons profissionais, até fazemos coisas importantes e muitas vezes mais do que devíamos; portanto, definitivamente, não é nossa a culpa!
A culpa, não é dos patrões, dizem os patrões.
A culpa, não é dos empregados, dizem os empregados.
A culpa, não é dos privados, dizem os privados.
A culpa, não é da função pública, dizem os funcionários públicos.
A culpa, não é dos políticos, dizem os políticos.
A culpa, afinal e de facto, não é de ninguém!
Ou talvez seja. É isso, é do sistema.
Como é que nos poderíamos estar a esquecer do sistema, esse monstro horrível. Agora já podemos todos dormir mais descansados, pois mais nada poderemos fazer. A culpa, de nós é que não é!
Se calhar, não há é nenhuma crise. Até nunca vivemos tão bem. E ainda bem. Só não percebo é porque se insiste em falar da crise. A mim, o que me importa tão simplesmente, é que me deixem sossegadinho, no meu canto e não estejam para aí com ameaços, de que não me sobem o ordenado acima da inflação, de que me cortam na reforma, de que vou pagar mais de electricidade, de água, de gás, de juros, de portagens, de combustíveis, de propinas, de... e, mais e mais. Pronto, eu protesto, eu não aceito que assim venha a ser; porque a culpa não é minha!
É isso, a culpa a haver é dos outros. Claro e evidente, mas é que não tenho qualquer dúvida; de mim é que não é!
Já sei. A culpa é do capitalismo e das multinacionais. É do Euro e da União Europeia. É dos americanos e dos árabes. Dos pesticidas e do ambiente. Dos agricultores e dos comerciantes. Dos políticos e dos sindicalistas. Do mercado único e dos chineses. Da comunicação social e da CP e da TAP e da Cultura e da Educação e dos tribunais e dos engenheiros e da juventude e do futebol e dos estádios e dos construtores e dos concursos e das novelas e dos feirantes e dos... e dos...; de mim é que não é!
Porque é mesmo assim. A mim ninguém me dá nada. Eu trabalho, eu cumpro, eu pago, eu participo e ajudo, eu faço, eu..., eu sou um cidadão ideal, que já tem obrigações a mais e de mais; exijo é mais direitos e mais ordenado e menos trabalho e menos responsabilidade e que não me chateiem, nem me digam nada. E que me ouçam, que me ajudem mais, que ensinem melhor os meus filhos, que os levem a casa, que lhes paguem os livros e as refeições. Mais, exijo que não se pague nada nos hospitais e nas farmácias e que nos atendam quando nós pretendemos, sem esperas, com bons modos e com o melhor profissionalismo e competência. Aliás, também quero uma casa melhor e um bom emprego para o meu tio, a minha sobrinha e a minha cunhada. É que eles são todos bons, não é por serem da minha família; não lhes têm é arranjado um emprego compatível com as suas habilitações. Porque, para quem andou a estudar até ao 9º ano, não podem aceitar qualquer coisa. Ou então, que o façam eles. Eles? Mas eles quem? Ora, os outros – os culpados. Pois, se fossem todos como eu... isso é que era. Estávamos todos bem. Isso é que é a realidade. Mais uma vez, eu é que não tenho culpa!
Outra coisa; eu quero lá saber da construção europeia, da NATO, do buraco do ozono ou das espécies ameaçadas e do,... Bem, eu não fiz nada que prejudicasse fosse o que fosse; aliás, muitas das coisas que acontecem de mal, eu até só sei pelos outros e pelas televisões. Eu estou de consciência tranquila e isso é que conta; jamais a culpa foi minha!
E sobre a Europa? Mas, eu quero lá saber da Europa. Eu nem nunca saí de Portugal. E sobre isto e aquilo, evitam de perguntar mais; pois, não fui eu!
Festa na terra-S.Bartolomeu
Festa rija – um bom programa de facto.
Também como é preceito, ninguém quer ficar atrás de ninguém, aliás, todos se comprometem a fazer boa figura a dar o seu melhor,para também não darem azo a alguém ter que dizer.Vários dias, entre outras coisas,para aquele feliz reencontro e salutar convívio entre os filhos da terra. Para quem está fora e sobretudo para os emigrantes, mais do que o ansiado e mais que merecido regresso a Portugal; é o voltar à sua terrinha querida.
É o voltar a casa – à sua velha casa ou à nova casa, já “conquistada” no difícil labor de terras estranhas, mundo fora.
Assim, a festa da aldeia representa o auge daquele mês incompleto de férias e a procissão, mais do que o ponto alto da festa religiosa em honra do seu padroeiro; é aquele momento em que todos saem à rua e se revêem ao fim de um ou até, muitos anos.
De facto, na volta quase total à aldeia, que a procissão propicia, verificamos quem cá está este ano – salvo, algumas desonrosas excepções, que nem aos santos abrem as janelas!
Pois, por aqui também há desses. E o que era uma raridade noutros tempos, agora tem tendência, infelizmente, para se pegar.
São de facto, cada vez mais as pessoas que se “fecham em copas”, como que isolados do resto do mundo e fora do ritmo próprio das próprias vidas. Esses, também o pessoal já não começa a estranhar a sua ausência. Contudo, cá na minha aldeia e felizmente, as excepções são ainda, mesmo excepções, ao contrário de muitas outras – talvez por serem maiores, talvez por serem menos bairristas, talvez por terem mais com que se entreterem ou talvez por nada disto. Talvez, simplesmente, só por não serem tão genuínas, tão amigas, tão alegres, tão tradicionalistas, tão entusiastas, tão comunicativas, tão...
Mas se algum não aparece e se isola mais, há sempre quem diga:
- Parecem bichos fugidios, escondidos na sua toca.- “Fazem cá uma falta como a fome” – acrescenta outro.
De qualquer modo, a procissão ainda consegue ser, a mais cabal demonstração de fé de grande parte da população – dos paroquianos.
É a sua religiosidade e respeito, focada em preces, algumas promessas, o gosto de enfeitar e de ver, votos, desejos e orações de renovados pedidos.
É como até na religiosidade somos interesseiros – pedimos através da oração: é o “rogai por nós” da Avé Maria; o “venha a nós” do Pai Nosso; e até a Confissão acaba em mais um pedido, de “rogueis por mim a”!
Tudo no sentido da melhor recompensa da vida.Finda a procissão, digamos que toda a festa é mais livre e mais solta, cumprida que está a principal e essencial componente religiosa.
Para muitos, o respeito à ...já não é o que era – à semelhança de muitas outras coisas, aliás – mas também, ninguém lhe consegue ser totalmente indiferente. Seja como for, ainda hoje aperaltamo-nos a preceito, colocamos as melhores e mais vistosas colchas às janelas e varandas, primamos no aperfeiçoamento do jardim e na limpeza do arruamento.
Temos os nossos convidados a preparamos a melhor e mais convencional de refeição para o domingo da festa.
- O quê, assar-se o leitão para a segunda-feira?
Mas, é que nem pensar!
- Mas, nós para domingo já temos tanta comida!
- Mas, eu quero lá saber.
Onde é que já se viu guardar as coisas para segunda-feira.
Nem antes, nem depois.
Sempre tudo foi e há-de continuar a ser ao domingo. Ora essa – à segunda-feira!!!
Depois do abuso próprio do almoço principal; eis que se segue a meio da tarde toda a festa religiosa: missa seguida de procissão, até o Sr. Padre trás aquela opa especial – para as cerimónias especiais – toda bordada à mão, riquíssima e de um requinte... dourado.
Uma obra-de-arte de facto, as bandeiras de sempre abrem toda a procissão e igualmente os nossos velhinhos santos, orgulhosamente enfeitados, tentando quase sempre demonstrar o empenho e um gosto a superar os outros anos.
O povo gosta e aprecia, antigamente também era assim, só as roupas tinham que esperar e esperar, até que o dia da festa chegasse, para poderem finalmente ser estreadas.
Haviam todos os anos anjinhos e as ruas eram decoradas com cordões de bandeirolas multi-coloridas.
Ao longo dos tempos, a religiosidade marca o tempo e segura a tradição – só os figurantes vão mudando e se vão transformando.
Eu, “graças a Deus”, nunca falhei à procissão, desde bébé de colo – até penso que é a minha primeira fotografia; vestido de anjinho e ao colo do meu pai – passando pela criança que segurava o cordão de uma bandeira, até ao rapazote a carregar feito homem, um andor e agora, como ontem, a levar o pálio, que destaca e protege o Sr. Padre, com a cruz e o cálice entre punhos.
A música este ano, vinha com um passo mais lento do que o normal e o maestro ainda veio avisar o Sr. Padre, que era aquele o passo certo de uma procissão solene
– “ora querer ensinar a missa ao padre”, deve ter pensado o próprio – e continuou como se nada fosse; até que o maestro voltou à carga logo de seguida, mas agora a pedir:
- Se pudesse ir com o passo ligeiramente mais lento, mas, nem assim o pedido foi atendido. Assim, a banda aos poucos ia-se atrasando, para depois acelerar o passo entre o compasso das diferentes musicas ,mesmo assim, toda a procissão teve que estacar por duas vezes à espera da banda – coisa nunca antes presenciada por estas bandas, só que ao cruzarem a capela, lugar acima, é que os músicos se aperceberam do que ainda tinham para andar... e tocar. Evidentemente, que não mais se atrasaram daí por diante – era o atrasas!
Até passou a ser um tanto ao contrário, quase a “empurrarem” com o pálio para ritmos desaconselháveis. Sem querer e afinal já íamos todos mais rápido. Foi então, que disfarçadamente quis colocar à prova uma possível mudança de ritmo de toda a procissão e à que retardar o passo um nadinha, passando-o a arrastá-lo um tanto e como é possível um único elemento ao prender o pálio um pouco, provocar sem os outros darem conta, um ligeiro abrandamento na marcha de toda a procissão.
Experimentei, consegui e logo depois, prossegui(mos) como se nada fosse – e não foi!
Mas, o mais interessante de tudo e com todo o respeito e afirmação pela tradição e igualmente, com todo o respeito e devoção pelo acto religioso, foram as minhas impressões e observações ao longo de todo o percurso da procissão – todos os anos repetido.
Assim, comecei por reparar naquele Cedro do Atlas, exemplar único na aldeia; que todos os anos lhe aprecio o porte, o crescimento e a beleza, desde que o plantaram, era ele muito pequenino – já para aí à mais de uma dúzia de anos.
Este ano está pela primeira vez com frutificação, ainda mais bonito; preenchido, maduro, completo – atingida assim a sua maturidade sexual, logo de seguida, confirmo o sucesso daquela plantinha, que de ano para ano, vai enchendo e decorando numa sugestiva bordadura, aquela viela e várias frentes de casas, ganhando espaço e poder de aceitação entre os moradores, apesar da sua origem longínqua – da África do Sul.
As pessoas estão afeiçoadas a elas e rendidas perante a sua inegável capacidade, robustez e valor ornamental.
De facto, quantas plantas é que nascem assim por entre as pedras da calçada e os cantos e esquinas calcinados das ombreiras das portas?
Sem tratamento nenhum, lá nascem, rebentam, brotam todos os anos dum chão empedernido e se fazem grandes em três tempos, desdobrando-se numa floração abundante e bonita, para que por esta altura do ano, enfeitem a preceito toda aquela viela e várias frentes de casa.
Portanto, ela vai conquistando merecidamente espaço e granjeando simpatias; sendo agora uma imagem de marca daquele troço do lugar e das pessoas e casas, que lhe dão guarida.
Parece uma família (e é), que se instalou cheia de sucesso e que vai crescendo muito naturalmente com o passar dos anos.
Também lá mais para a ponta do lugar e já há muitos anos, lá apareceu aquela novidade de jardim, que levou toda a “procissão” a reparar em si e que de então para cá, foram aproveitados todos os seus filhos (novos rebentos com uma ponta de raiz), para ganharem um cantinho especial em muitos das casas da aldeia – tudo da mesma proveniência, tudo em família.
Aliás, um pouco como a própria aldeia nas suas trocas de produtos e naquele dar com gosto das suas coisas; sejam batatas, vinho, azeite, feijão verde, carne ou flores.
Sim, flores e plantas, arbustos, ramagens e fruta.
Tudo do que a terra dá e o vizinho e a família não tem por enquanto.
Reparei naquela casa fechada, a caminho do abandono – pois é verdade, o ano passado morreu o Ti... e repentinamente senti saudades da sua curvada e simpática imagem, acenando cordialmente.
Quando era mais novo, na posse de todas as suas capacidades físicas – pois, que homem de trabalho, depois, num instante estava preso às muletas e noutro instante, ficou preso ao travesseiro, até... que a morte o levou.
Avivaram-se-me de repente todas as suas imagens, e particularmente aquelas em que o via de pálio firmemente preso entre as mãos, depois em imagens repetidas ano a ano, já sem se poder mexer convenientemente à porta de casa. Primeiro amparado a uma bengala, depois de muletas e finalmente, em cadeira de rodas; mas sempre de sorriso cordial a esconder o sofrimento, na dependência dos outros e no enorme peso de todos os anos.
Reparei depois, naquela outra casa já a ameaçar ruir e a outra que já ruiu, feito agora estacionamento de grande jeito para toda a vizinhança, depois, aquela casa já acabada e outra, que nem pensava existir e que já se encontra toda erguida. “De quem é?” Perguntei de soslaio (dic) apontando com o queixo. “Ah, é!” Exclamei admirado para mim mesmo. Depois, continuei nas minhas cogitações. Só é pena, continuarem a edificar casas novas por cima dos muros antigos, para não terem que recuar com a casa e mesmo que esta fique com umas inestéticas esquinas vivas. Tudo num rigor de milímetros.
Depois, também é um castigo para deixar o carro nestas ruas mais apertadas, quer as pessoas que também vão na procissão, como as que assistem à sua porta ou janela ou ainda, nos entroncamentos, largos e outros pontos de passagem, lançam-nos – e nós retribuímos de igual modo – aquele cumprimento sorridente, de aceno suave ou com aquele típico piscar de olhos.
Pensava para comigo: “Eh pá, que já não via aquele à quase vinte anos, está bem conservado. Aquela, é que deve ser a sua mulher e aqueles serão os filhos – assim já tão grandes!
Nã, devem ser os sobrinhos! Ou talvez sejam mesmo os filhos, à velocidade com que eles hoje crescem!”Mais à frente, reparto naquelas duas miúdas e mais naquelas e noutras ainda: “Eh pá, tão giras que estão a ficar as filhas do... Miúdas, miúdas já eram; agora são é graúdas – umas mulheraças mesmo, de se lhe tirar o chapéu! Ficam na retina destes rapazes mais espigadotes, de certeza – só se forem cegos!
Aquelas ali, também já estão todas escaroladas.
-Ali o Ti Coiso, tão acabado que ele está. Teria andado doente ou quê? Aqueles rapazes acolá, que já nem os conheço – serão de cá? Pela pinta, devem ser os filhos do...
-Ali o Ti Manel e a Ti Estrudes, que se não fosse a procissão, acho que já não os via à séculos. Assim e até ver, sempre nos vamos cumprimentando todos os anos.
Eu também cá venho pouco e eles sempre foram de se enfiarem no seu ninho e ponto final parágrafo, assim...
Por vezes, trago daquelas saudades de quando era um pimpolho à solta – um verdadeiro menino de rua... mas de aldeia,de uma aldeia, em que ainda hoje toda a gente se conhece.
Pois, uma aldeia em que à quase quatro décadas atrás, se podia viver feliz pelas suas ruas e em que todas as casas eram de gente amiga, de portas quase sempre escancaradas e os seus donos, quase invariavelmente, a receberem-nos de braços abertos.
Sim, claro que haviam excepções, mas até a esses, eu no meu tempo de gaiato, lhe conheci a casa. Aliás, consegui na altura, entrar em todas as casas da aldeia –nenhuma me foi totalmente estranha; nem a da Dona... que estava sempre fechada e que não recebia ninguém. Também já na altura, era um exagerado vagabundo. Exagerado, mas feliz. Vagabundo, mas feliz.
Sempre de casa em casa, rua abaixo e rua acima, e pronto a entrar em quintais e em subir a Ribeira.
Lembro-me destes e doutros tempos e da procissão de então , de como ela pouco mudou de então para cá.
É, a procissão faz-nos lembrar esses outros tempos de uma forma muito peculiar,de vez enquando, lá se fazem umas visitinhas a uma dessas casas amigas e repletos daqueles amigos de sempre.
Particularmente aquando da outra data grande lá na terra, também domingo à tarde – a visita Pascal. E tantas outras casas que ficaram para trás – para outra altura, para a próxima visita à aldeia.
A aldeia, pelo menos a minha; que não é tão pequena como isso, tem ainda muita vida própria, propiciando fáceis encontros e mais programas ainda por acontecer; nem tão grandes como isso, em que aí as pessoas já não sentem da mesma maneira e já não se identificam tanto como isso. Até as cumplicidades e os encontros são mais restritos e menos comuns, perdendo-se com facilidade, os motivos e as razões do mais são convívio e do mais salutar bairrismo.
Então para quem está longe e durante muito tempo, chega a ser enternecedor o reencontro com a aldeia.
Encontra todo um povo de braços abertos, num espectacular acolhimento, ao longo das ruas, os verdes recolhidos e espalhados abundantemente por todo o chão, emprestam ao ar um aroma especial e único nestes momentos.
Comecei a dar conta do cheiro forte do alecrim pisado, que apesar de muito agradável, cheira a Páscoa.
De facto, é esse o arbusto usado quase em exclusivo na Páscoa.
A Páscoa tem, de facto, o cheiro do alecrim, conforme íamos avançando, os verdes mudavam entre as variedades mais corriqueiras, as mais típicas dos campos locais e uma ou outra cultivada nos jardins das casas.
As mais aromáticas para mim, são o sempre muito agradável funcho, a erva-cidreira e a hortelã. Esta, julgo que até nem era nada comum encontrá-la a verdejar o chão procissional, neste decoroso e agradável tapete. Mas, pensando melhor, o cheiro mais típico da Festa da aldeia, sempre foi o da hortelã.
Da hortelã que levam os negalhos. Ah, que saudades daquela caçoila de negalhos, assada juntamente com a chanfana.
Tudo cheiros e sabores muito próprios da Festa de uma qualquer aldeia da Bairrada.
Antigamente, a festa começava logo na segunda-feira antes, com os rebanhos a invadirem as ruas, como um feliz anúncio do que estava para vir.
A cabra era cuidadosamente escolhida, para na quinta-feira já se ter a chanfana assada. Também deve ser por isso, que agora as encontramos espalhadas pelo chão; pois os negalhos são hoje em dia, uma iguaria cada vez mais rara.
De facto, os negalhos sempre deram muito trabalho. Tanto, que agora já não há praticamente quem os faça – pelo menos na minha família, para nossa pena.
Dei ainda conta daquele arbusto mais raro e com um porte já digno de registo, que o fazia já um exemplar único; mas que lhe deram uma poda daquelas que não se fazem.
Só que pelos vistos, estava a tapar aquela janela, no qual parece que ninguém lá fica, mas enfim... ah, também se não fosse assim, agora não se via a janela!
Passada a volta do Carril, na quinta maior, os potros nascidos o ano passado, estão agora uns elegantes folgazões. Lindos.
Que beleza fabulosa é uma família de equinos à solta e logo com gémeos.E como sempre lá continua aquele telhado, orgulhosamente composto com as abóboras maiores e mais bonitas da produção do ano, é para que toda a gente as veja e saiba, quem é que é capaz de ter das melhores novidades e obter da terra os melhores troféus.
De facto, aquelas abóboras fantásticas, assim dispostas no ponto mais alto do palheiro e bem à vista de quem passa; são verdadeiros troféus entronizados e no melhor palco.
Assim, não só se conservam melhor, podendo serem guardadas pelo máximo de tempo possível, como regalam a vistinha deles e de quem passa.
Reparando melhor; de facto, são exemplares dignos de serem expostos.
Aliás, soube mais tarde, que já lhe tinham comprado três das maiores e mais vistosas, para estarem expostas num restaurante da zona.
Isso também é mais um troféu para a própria aldeia.
Sim, sim; porque aldeia que dá vinho daquela qualidade, também tem tudo para dar abóboras daquele calibre.
Noutra curva na ponta do lugar, dei conta do corte daquele pinhal lindo, que conhecia praticamente como tal, desde menino.
É uma perda óbvia, que me entristeceu, mas teve que ser, pois já tinha porte e idade mais suficientes e um ou outro pinheiro a ameaçar cair, tal era a pendente que já tinha ganho. Também com as árvores é a lei da vida – aqui compreensível o seu corte raso, mas logo de seguida, alegrei-me com a visão, ao longe, de uma nova vinha.
Sobretudo, porque também aumentou a distância das casas até à floresta mais sensível aos mais que muitos e nefastos incêndios florestais, logo de seguida, deparo com uma vinha bem tratada, carregada de boas uvas, numa abastança rica que o tempo há-de cuidar de amadurecer convenientemente.
De qualquer modo, este ano já vão mais adiantadas e com a chuva da semana passada, que veio mesmo a calhar, segundo me testemunharam já, alguns dos muitos peritos locais, o ano – tudo o indica – irá deixar um vinho de muito boa qualidade.
Não, como os que ficam gravados como de referência e lembrados pela sua qualidade especial; mas também este ano a produção é maior e como tal...Mais à frente aquele pedaço de vinha a entrar na decrepitude própria do mal-amanhada:
Pois, pois, esta vinha é do... e ele agora já não pode.
Tão bem zelada que ele trazia sempre a fazenda toda – e era (é) mais que muita.
É, vai tudo atrás dos donos e é bem certo – imaginava já eu as conversas ocorridas a propósito deste caso, por muitas das casas da aldeia.
Também aqui nada de novo – volta a ser a lei da vida e das prioridades.
Pensando melhor e julgando com isenção; é normal, é natural e também não é assim uma verdade absoluta,pelo menos, cá por terras bairradinas, até que há muita boa gente mais jovem cheia de genica a fazer coisas por tanto chão de terra fora.
Mais, mérito lhe seja dado, a fazerem tão bem como nunca os seus digníssimos antecessores o conseguiram.
Aqui ainda continuamos a ter renovação de quem sabe, de quem faz e de quem quer mais.
Terra grande, afinal!
Gente grande, a fugir ao triste fado nacional de abandono sistemático dos territórios mais rurais do nosso país.
Existe empreendorismo, inovação, marketing e tudo o resto.
Outras impressões ficaram por observar com toda a certeza e outras, muitas, ficam aqui por contar.
Ordeiramente a procissão recolheu.
O povo também recolheu, alguns a suas casas, outros ao café, para reporem agora as conversas em dia e os líquidos entretanto perdidos.
Isto apesar do abastecimento de água que os mordomos foram criteriosamente distribuindo pelos mais sedentos.
Mas, por ocasiões da Festa, nada como uma garrafinha bem fresquinha para satisfazer todos os muitos bebedores, mais sequiosos e ansiosos.
O convívio é ... e os reencontros são fraternos – alguns ao fim de muito tempo – passam agora às agradáveis palavras e àqueles abraços de todo o tamanho.
- Chega-me cá esses ossos. Então sempre bons? E a família?
- Felizmente, tudo bem.
- E logo vais ao arraial?
- Claro; alguma vez faltei?
- Então logo bebemos mais um copo.
- Ai, isso é mais que certo. Se fosse só um!
- É os que forem, desde que nos portemos bem!
- E alguma vez nos portámos mal!?
A festa lá continuou num ambiente de arromba e todas as gerações lá continuam a irem... divertir-se.
- Que boa que este ano está a Festa – diz alguém, como também já foi dito por todos os outros anos passados, os outros ouvem e concordam.
Também são eles que sempre fizeram a Festa assim... bonita, grande e especial.
2008/Grada
DIMENSÃO
Para os que sempre fizeram na sua aldeia a sua vida e sempre a viram, como o seu assento único; que grandeza tremenda eles conseguem obter desse seu território, tão limitado fisicamente!
Que enormidade tem toda a sua vida, para quem consegue extrair de um naco de terra tão pequena, a dimensão de todo um mundo!
Que paz de espírito, atingem na plenitude de eremita, naquele seu refúgio, reduto quase exclusivo – um tesouro único, no seu mundo tão especial!
Que sedução e cumplicidade existem entre ambos?
E que dimensão tem todo esse usufruto mútuo, que nós outros, com toda a nossa insaciável e incansável procura por todo o lado, nunca conseguiremos alcançar?
Que segredo terão guardado e que os mantêm tão firmes, dedicados e satisfeitos, na sua pequenina aldeia e por toda a vida?
Tal segredo, só pode advir do pó daquela terra ancestral e que já viu nascer e cuidar de tantos que também já foram felizes como eles.
REINVENTAR A HISTÓRIA
Quantas memórias esquecidas se perdem definitivamente na morte dos que ainda as iam lembrando e às quais, mais ninguém ligou nenhuma. Até que algum historiador mais curioso ou antropólogo mais criativo e algum outro arqueólogo mais experiente ou realizador mais reconhecido; reinvente, reformule e institua novas roupagens, a partir de um pequeno pedaço, entretanto conhecido ou de algum caco casualmente descoberto, passando a ver e a viver o seu presente, a partir da História passada e de tantas mais histórias perdidas. E que depois passamos a reconhecer como identidade e a ligar como valor. Nem que pouco tenham a ver com a Verdade, que foi já à muito esquecida!
Mas também existe uma diferença abissal e que tem a ver com as histórias de quem as vivia e que necessariamente duravam os 365 dias de cada ano. De facto, para serem bem contadas, só vivendo-as de novo, saboreando-as a plenos cinco sentidos e sofrendo-as a plenos quatro costados. Ou serão sete?
Assim, é muito mais fácil assistirmos comodamente em casa, a quem conta e descreve a História resumida com o alcance limitado e reinventado de uma longa metragem.
MAL-EMPREGADA
Num fim-de-semana destes rumei até Vila de Rei. Ou melhor, apeteceu-nos por lá parar durante um tempo. E quanto bem nos sentimos numa terra assim... simpática; assim... acolhedora; assim... bonita. E assim parámos e ficámos. Almoçámos e fizemos sesta – modo de dizer, é claro! Almoçamos muito bem, claro e depois permanecemos naquela mornice contagiante que delicia e reconforta. Com vagar, ficámos a fazer sala num outro espaço muito bem frequentado, com tempo para ter daquelas conversas que parece que já não nos lembrávamos de ter tido e para ir observando a vida circundante. Tudo nas calmas. Tudo calmamente também se passava em nosso redor, sem os habituais atropelos citadinos e habitual indiferença. Não, ali (aqui) as pessoas, são pessoas. E carinhosamente tratadas. Tudo como deve ser.
É em terras com esta que ainda nos sentimos gente. Gente viva, observadora, sensível e feliz. E é destes sítios que normalmente trazemos na bagagem muito para contar. E quanto ainda é que ficou por ver e sentir.
- Bem, brevemente temos que lá voltar.
- Fica prometido. E pronto comprometemo-nos a repetir um dia assim e desta vez com as famílias. Ou mais amigos, quem sabe!
Sim, Vila de Rei terá sempre muito para ver e contar. E muito mais para surpreender e encantar. Aliás, é precisamente neste nosso Interior e por terras mais pequenas, que nos sentimos mais confortáveis, mais nostálgicos, mais calmos, mais saudáveis, mais... (em suma) mais nós!
A terra convida e o tempo também estava bem convidativo para um dia de Inverno.
Aliás, tínhamos saído para ver o Inverno e encontrámo-lo cheio de sol, macio, semi-despido e descontraído. Agradável. Nestes dias de Inverno suave, com o sol a brilhar e de temperaturas amenas; apetece-nos saltar para a rua e ir conhecer o Inverno e beijá-lo na face... se possível! E nestes dias assim de falso Inverno, também toda a passarada aparece logo, nem se sabe muito bem de onde, para dar sinais de si, como que acordada da letargia friorenta da invernia ou dos períodos mais longos de sol mal-parado. Agradáveis e também mais alegremente sonoros estes dias de Inverno assim!
Aliás, tínhamos saído sem destino e sem pressas entre amigos - coisa rara hoje em dia. E sem programas. Um tanto para contrariar as nossas vidas de corrupio constante e um nosso mundo, cada vez mais frenético.
De facto, quantas vezes se “corre Ceca e Meca” para não se chegar a nenhures. E depois quando se chega a algum lado e supostamente se estaria bem, parece que o pessoal só se conforme, quando se pões a andar e vá-se lá saber para onde!? Não é o pão-nosso de cada dia, mas acontece-nos vezes demais.
Mas naquele dia não. A terra convidava de uma maneira tão especial, com uma satisfação tão tranquila que naturalmente retemperava. E apelava ao apreço do espaço e à devida valorização do território. Assim, deixámo-nos estar a apreciar eficazmente o momento, apesar das voltas sugestivas que por terras de Vila de Rei, gostaríamos de ter dado e que não demos. Mas, ora aí está precisamente mais uma excelente razão para lá voltarmos e novamente com todo o vagar e... com mais gente para igualmente retemperar o espírito, o corpo e a “psique”.
Existe uma procura quase impraticável e um descontentamento quase indecifrável; daquilo que queríamos só até o termos; e de onde desejaríamos estar, só até lá chegarmos. Deixando no ar, a ilusão de uma insatisfação desejada ou de uma insanidade consciente – o que nos atrapalha suficientemente o nosso viver, já por si demasiado atroz.
Se calhar, somos é demasiado exagerados nos Km.s que fazemos, uns exigentes do caraças na atenção que pretendemos e uns indecisos de primeira na procura dos nossos desejos e vontades mais evidentes.
Queremos e ansiamos sem saber muito bem o quê, como se ainda não nos conhecêssemos o suficiente. Se calhar, até é verdade. Pelo menos, ao nível do nosso mais intrínseco íntimo e do nosso mais sincero gosto, que brota de todos os nossos poros.
Outra sensação estranha, é a de que andamos normalmente atrasados em relação àquilo que nos acontece; e a de que estamos a ir a reboque de qualquer coisa, chegando igualmente fora de tempo, em relação àquilo que queríamos!
E depois claro, andamos descontentes demais e somos, cada vez mais difíceis de contentar.
Mas um dia destes, ainda havemos de acertar o passo, com o ritmo que a nossa vida devia ter e de apurar o gosto, com a maravilha que ela deveria ser!
Bem, esse dia parece ter chegado, nas sensações daquele dia, a todos os níveis, diferente e marcante. E se houve aspectos que nos marcaram de um modo idêntico e até comungado, houve outros que com toda a certeza, ficam com cada um de nós. Que são pessoais e que nos sugerem coisas bem diferentes, desde a observação exterior ao recato subjectivo da nossa análise.
E naquela tarde calma assisti a algo, que passo a relatar e que não passei para os outros dois colegas do lado; nomeadamente para não espavorir os intervenientes e estragar todo o seu enfeitiçamento. E até, possivelmente, alterando os seus acontecimentos.
Assim, naquela tarde calma e já de sol empinado e apetecível, lá nos fomos demorando na tal “sesta” conciliadora. E por essas alturas e favorecido pela localização da mesa de café, fui apreciando particularmente aquele possível início de namoro. E há que tempos que não assistia ao arrulhar de dois pombinhos! Pelo menos, foi o que me pareceu pelas circunstâncias do momento e acreditando nas melhores intenções de ambos os parceiros.
Percebia-se nitidamente que também eram forasteiros. Tal qual nós. Só que talvez, eles tivessem programado a coisa, seleccionado a terra, definido o local, para que nunca mais se esquecessem, que foi ali que tudo tivera o seu início. Ficarem assim ligados e muito particularmente, a Vila de Rei. E percebia-se que não eram dali, porque quem também é de uma terra de Interior e mais pequena, como eu; percebemos isso logo à distância.
Estavam naquela fase... muito gira, do avanço e do recuo, mas a avançarem esclarecedoramente. No meu tempo, esta fase era bem mais lenta, mas elas agora ajudavam e de que maneira, bem mais à festa!
Notava-se claramente que a conversa ia agradável e que estavam ambos no bom caminho. Os olhares iam-se cruzando cada vez mais esclarecedores e intencionais. Os gestos iam e vinham até à simulação do toque. E ele a provocar um pouco e ela a ajeitar-se como deve ser – pois, no meu tempo elas não se chegavam logo assim tanto para a frente. É! E foi ela que avançou ligeiramente a cadeira na direcção dele. Os sorrisos eram frequentes e de aproximação; ou melhor, de atracção. Comprometedores e afirmativos.
De que se ririam tanto? Estava-se mesmo a ver que a conversa devia ir uma chanchada, mas no sentido certo. Percebia-se ao loooonge o que ambos queriam! Repentinamente, depois de bastante tempo concentrados só na atenção do outro, os risos, as palavras e os gestos, foram até ao toque nas costas da mão, ao dedilhar, ao afago e... e pronto. Estava quase.
Com a primeira tentativa dele para lhe pegar na mão, ela retirou-a um pouco para trás, mas compensou logo de seguida, quiçá arrependida da inconsciência do movimento defensivo; com um sorriso e um olhar daqueles! Daqueles, daqueles... que não deixam margem para quaisquer dúvidas. E ele de seguida, entontecido, fez a investida final, investido que ficou de tanta confiança e vai de mais suposta piada, seguida de uma carícia no rosto, entre a bochecha, a orelha e a descair até ao pescoço. E ela correspondeu com o tal “olhar matador”, entre o apertar da cabeça quase até ao ombro, espremendo suavemente a mão do rapaz. Os seus cabelos soltos e lisos escondiam a mão e eu de longe, também sorri pela conquista. Mais uma dupla conquista que o mundo tinha pela frente. Mais um novo casal que se “afiambrava” para um novo desafio. Mais crianças que iríamos ter todos. É podemos falar assim, dada a escassez dos nascimentos que vão acontecendo por estas nossas terras.
Como disse, eles certamente que não eram dali, tal o modo ofuscado e embevecido com que estavam e se comportavam publicamente; mas também não eram citadinos. Talvez de um outro concelho dos nossos, dizemos nós todos cidadãos mais resistentes e/ou mais conscientes de muitas das nossas mais-valias comparativas. De facto, nós por aqui temos tanto e acreditamos o suficiente, para conseguirmos desfrutar das enormes virtudes e demais potencialidades, que todo este nosso mundo rural de Interior, ainda tem para se nos oferecer. Não é que sejamos contra ou que não gostemos da cidade, nada disso. Eles, o país, os decisores, porventura nós todos; é que ainda estamos longe de perceber e de estimular um melhor reequilíbrio, todo um novo rearranjo territorial; sem o abandono e encerramentos em catadupa e com toda uma nova perspectiva dinâmica de valorização e de fomento de todas as múltiplas capacidades locais.
De facto, enquanto não se desenvolverem (acontecerem) pólos de alternativa económica (de vida) no Interior, o país no seu todo, não terá solução. O país, não encontrará soluções sérias para o seu (nosso) mais que necessário desenvolvimento equilibrado e sustentável. E com créditos e atractivos, que não podem ser só movidos localmente. E nem Lisboa, a continuar assim, também não terá mais para onde ir!
É, a safa que já passou pelo mundo inteiro e de lés-a-lés; entre especiarias e ouro, entre cacau e bacalhau e mais recentemente, entre Bruxelas e o “Allgarve”! Eis-nos em busca de mais uma safa, talvez das derradeiras; que apesar disso, também nunca será a última! Porque o país – físico/territorial – não emigra, mas vai-se depauperando, desmazelando e ardendo; o país – material e infraestruturado – não foge (as coisas sempre por cá ficam), podem é fechar umas e servir outras, para pouco mais do que vista e opulência; o país - humano – tem enorme capacidade de adaptação e sempre nos havemos de desenrascar, como sempre o soubemos fazer, nem que seja uns às custas dos outros e o grosso a aguentar o grosso todo. E o país – económico – modernizou-se, transformou-se e até adquiriu capacidade tecnológica, mas que lamentavelmente não se organiza e que continua a confundir funcionalidade com funcionalismo!
Talvez, depois de termos heroicamente descoberto o mundo, de fomentarmos as primeiras trocas comerciais à escala verdadeiramente global (os primeiros percursores da moderna globalização), de termos surpreendido e de estarmos mais uma vez há frente em termos de direitos humanos, na abolição da escravatura e na condenação da pena de morte! E ainda, por nos termos sabido adaptar e integrar a todo o tipo de trabalho e desde os países mais desenvolvidos aos mais estranhos; eis chegado o momento para nos virarmos mais para dentro e de apostarmos mais em nós. E do nosso território no seu todo, com a mais forte argumentação, diversidade e especificidade.
Viver no Interior não é nenhum drama e desenvolvermo-nos definitivamente a partir de dentro é possível e crucial. E incontornável. Aliás, não pode ser nenhum estigma a interioridade, muito pelo contrário. Até pelo bem-estar e qualidade de vida que temos e por toda uma malha urbana, que se aperta e se estreita por tão caótica e impessoal, para não abordar outras problemáticas.
Sim, a safa pode muito bem estar (pelo menos, passar) por este nosso Interior mais abandonado e esquecido... à espera, numa tranquila boa tarde de sol extremamente agradável.
Enquanto continuava a conversar com os colegas de mesa sobre Vila de Rei e todo o futuro que o Interior tem necessariamente que conter; ia-me entretendo na “leitura” daquela outra mesa. Por entre os seus ombros, obtinha uma vista privilegiada daquela outra mesa. E eles claro, também tinham mais que fazer, do que estarem para ali a ver se algum qualquer coscuvilheiro mais afastado, se estava a interessar nos seus mútuos progressos. Eles também não se podiam distrair um do outro, muito particularmente nesta fase.
Nunca os tinha visto mais gordos; nem eles a ninguém dos presentes, pelas aparências com que mais tarde partiram, atravessando o estabelecimento e rua contígua. E daí também não ser pecado algum, todo o meu possível interesse pelo caso e igualmente, de todo o seu possível desinteresse por nós todos!
Assim, iam-me interessando muito sugestivamente, todos aqueles desenvolvimentos, há espera e a fazer votos, por aquele primeiro beijo por acontecer. Entretanto, notou-se um recuo suspeito nos gestos, nos olhares e nos sorrisos. Um verdadeiro momento de suspense. Depois, depois... é agora; mas não, escapuliu-se num primeiro momento. Contudo, ele insistiu; mas, mas... ela não viu e o beijo ficou dobrado e ao lado, fugaz... mal dado!!! Ele intimidou-se e ela sorriu. E sinais dos tempos que correm, há falta de jeito do lado de lá, avançou ela. Mesmo assim, o beijo não foi completo e para primeiro beijo, deixou bastante a desejar!
Bem, neste momento, talvez o local perturbasse o suficiente a concentração e no mínimo a libertação. É, num momento destes e por mais que não se queira, tudo tem a ver e assim, o beijo não se soltou o devido e o impacto desejado ficou encolhido!
Depois, mal ou bem, lá avançaram para outro beijo, mas ainda sem o fogacho que se exigia, perdendo-se a meio. Não tentaram mais nenhum. Deram as mãos e foram pagar. Continuei a acompanhá-los nos seus passos, que sem grande esforço e suficiente descrição, deu para seguir. A aproximação ainda não era a que devia ser e notava-se à légua, que precisavam de estar sossegados e a sós. Para então aí, talvez aí, o prometido e o conjugado sofresse os desenvolvimentos devidos.
Mas, mas... duvido. Não sei, não sei... não sei, se com princípios destes aquele namoro iria pegar, firmar-se, chegar a algum lugar, a bom porto!?
Bem apreciados os pares e analisando agora mais a frio os acontecimentos, sem aquele meu (nosso) querer de querer ver as pessoas bem, mesmo sem querer e de um modo tão sadio como de naturalmente interesseiro, apesar de totalmente neutro. Simplesmente, o nosso gosto de as ver mais felizes e com os seus intentos mais puros, inatos e bonitos, concretizados.
É assim mesmo, também a nossa primeira objectivação é quase sempre mais pura, inata e bonita e daí, também o nosso gosto concretizado ao vermos concretizados os gostos/desejos mais sinceros dos outros. Acho que somos mesmo assim e para com toda a gente mais desconhecida – tal qual como nos concursos televisivos, em que o pessoal todos faz figas positivas, formula votos e congratula-se quando um qualquer concorrente ganha o prémio. E então quando é o prémio maior, aí é que também a nossa satisfação é maior!
Mas numa segunda análise, num momento posterior, numa perspectiva mais indirecta; agimos e conjecturamos logo de um modo menos intenso, menos emotivo; logo, mais frio, distante e até talvez, mais realista e comedido. E assim e nesta segunda fase e sem querer, dei por mim, muito naturalmente, a cogitar o seguinte:
- Nã, aquilo não vai dar nada!
Mas e porquê? Perguntei eu a mim próprio, questionando e criticando aquele meu quase mau-agouro!
Então queria ou não queria o bem de um e de outro? No fundo, de ambos como casal? Então desejava ou não desejava a felicidade de toda a gente?
Pois, mas as dúvidas eram mais que muitas! As dúvidas pairavam no ar e não saíam de lá. Mantinham-se estratificadas, firmes e irredutíveis. Agora, as dúvidas já eram quase certezas.
- Nã, aquilo não é namoro para ela!
Agora e claramente, parece-me que não! Ele não tinha roupa para aquele cabedal! Definitivamente, ela seria mal-empregada nele!
É que além do mais, ela era elegante, alta, morena, de costas direitas, jovial, com as curvas todas no sítio e particularmente exótica. Uma morenaça e de uma beleza exótica, que marcava o menos atento e interessado. Muito bonita, mesmo. E então, o seu sorriso era do estilo... irresistível. Sem querer, até eu próprio afinal tinha ficado enamorado pela sua beleza e especialmente, pelo seu marcante e super sedutor sorriso! Os olhos, os lábios, assim como outros pormenores, pareceram-me bem saudáveis, há falta de melhor adjectivo para quem não viu de mais perto a jeitosa!
Agora ele... pois, vendo melhor, não tem estaleca para tanto adjectivo! Para tanta fruta! Mas... e se tiver? E se der certo? Pois aí e definitivamente, ela é mal-empregada nele!!!
José Porvinho 22 Março de 2008
FICAR A PERDER....
Até pelo Interior mais interior e pelos recantos mais recônditos; até pelos confins mais esquecidos e pelas terrinhas mais modestas – se está a perder a cultura rural, no sentido do positivo apego à terra, dos valores e saberes mais ancestrais, passados de geração em geração; do sentido mais prático do quotidiano e da sua realização, que a vida em maior contacto com o campo e as culturas propícia.
De facto, até onde menos se esperaria, os novos modelos e as culturas mais urbanas, sobrepõem-se e estão a dominar maciçamente as novas gerações. Até pelo campo fora!
Nada de mal quanto a isso, no que de positivo trazem e de bom promovem e transmitem; mas quando se apodera e ocupa o lugar, do que de mais positivo havia nos valores mais rurais, tradicionais, campestres, puros e sadios – será toda uma cultura, que se está a condenar a uma morte mais que rápida.
É, os problemas vão-se agudizando e as soluções vão falhando.
E todo o mundo rural, fica a perder – e muito mais do que possamos imaginar!
E todo o país, obviamente, que fica a perder – e muito mais, do que qualquer cultura urbana pode compreender!
NACIONAL 1
Teremos porventura a cidade mais comprida do mundo – a Estrada Nacional nº1 (EN 1).
De facto, é impressionante como fomos capazes de “semear” casas e comércio “de ponta a cordel”. Também assim não nos enganamos para encontrar de tudo ou quase. E também assim, não nos perdemos à procura seja do que for e é extremamente fácil encontrar qualquer sítio – ao contrário de todas as outras cidades. Seguindo sempre estrada fora, sempre na mesma, sempre em frente.
Neste nosso desordenamento clássico, assim sempre sabemos onde estamos e vamos.
Somos de facto, um país de brandos costumes, onde quase tudo aceitamos (o que é que ia adiantar?) e de tudo comemos (que remédio!).
Depois claro, vemos coisas de que não gostamos e dizem-nos coisas a que, simplesmente também... não ligamos!
Mas e depois, qual ordenamento? Quais aberrações? Nós, somos mesmo assim – peculiarmente interessantes e particularmente compreensivos a todas as diferenças. Onde tudo se acata e onde tudo se parece encaixar (mal, muitas vezes), mas enfim...
A LIÇÃO DA NATUREZA
A nossa relação com a Natureza ainda é demasiada madrasta. E em relação a isso, o que temos feito de melhor, não tem sido o suficiente – aliás, tem sido demasiado ténue. Mas, já quando se fala do pior, temos feito de quase tudo e depressa, numa vertigem civilizacional que nos pode desgraçar a vida – vida madrasta esta! E com tendências para piorar, com o abuso cego dos erros sucessivos que se vão cometendo.
Continuamos a querer ser os donos, senhores e mandadores da Natureza, fazendo dela o que muito bem nos aprouver e tudo para o nosso melhor proveito. E o resto?
É que há resto. Na Natureza, pouca ou nenhuma conta dá resto zero. E na Natureza existe e temos que ter em conta, sempre demasiadas equações e outros tantos quocientes.
De facto, a lição da Natureza continua a ser pragmática e bem real – sábia como sempre - mas, nós nunca mais a aprendemos. Somos mesmo maus alunos, por mais estatuto de repetentes que tenhamos! E então a gerir, ainda pior.
MAR, CAMPO E CÉU
Há muita gente que sente aquela atracção especial pelo mar – acabando por ficar ali defronte da sua imensidão e a admirar a sua intangível capacidade. Oh, como nos sentimos tão pequeninos ante a sua presença!
Sinceramente, acho que não tenho tanto essa necessidade como esses outros, porque todos os dias olho o céu e encontro nele toda a minha ínfima pequenez.
E também, quem é do campo e quem sempre o foi, sabe ver na terra e perscrutar através dela, toda a dimensão que tem toda a Vida e quanta insignificância nós somos e representamos.
Acho mesmo que os presos terão mais saudades do céu aberto e dos grandes espaços, no apelo das suas múltiplas formas e com o cheiro de certas flores silvestres perfumadas ao luar, ou na extensão de um campo cultivado ou de uma qualquer cordilheira vinhateira a abarrotar de uvas madurinhas; do que propriamente, dos salpicos frescos e salgados da maresia!
NAMORO DE TRÊS DIAS
Esteve aquele único pêssego a reluzir para mim na fruteira, tentadoramente, sempre que olhava para ele. Namorei-o durante três dias. Ao fim do terceiro dia e com a família já toda a descansar; vai não vai e... foi mesmo!
Claro, que queremos sempre o melhor para os nossos filhos e que lhe dedicamos o melhor de nós e deixámos-lhes invariavelmente do melhor da fruteira e... do restante. Mas, naquele instante o apetite foi mais voraz, apesar das dúvidas que subsistiam. Porque, um pêssego assim, tão Formosinho, como que esquecido ou teria sido rejeitado?
E soube-me às mil maravilhas!
Depois claro, que ao outro dia, veio a inevitável pergunta:
- Quem é que comeu aquele pêssego, que eu estava a guardar para as meninas?
- Estavas a guardá-lo? Então guardaste-lo muito mal!
- Ai, foste tu! E ainda gozas!
- Então... antes que se estragasse. Mesmo assim, resisti-lhe durante t-r-ê-ê-s dias!
ENVELHECER A PRECEITO
A capacidade para apreciar e valorizar um vinho tem directamente a ver com o nosso próprio envelhecimento. Dizem que um vinho tinto - e então se for do Porto... e da Bairrada – é quanto mais velho melhor. Também nós o seremos? Pelo menos, quanto a questões de degustação vinícola, parecemo-lo ser de facto!
Parece que o palato vai amadurecendo, consoante a idade vai avançando. De facto, poucos “teenagers” acompanham as suas refeições com vinho e poucos nas idades dos “entas”, se puderem; o evitam!
A mim, se não me fizer companhia a uma boa refeição, um vinho condizente, já não é bem a mesma coisa. É preciso é regra e moderação, todo o resto é o deleite próprio de uma boa bebida – e sem dúvida, do melhor acompanhamento.Tal como um bom vinho velho, que necessita de um bom casco para o poder ser, também nós a partir do nosso velho gosto, vamos tratando melhor da nossa vasilha!
RECOMPENSA
Certos monges, impedidos de ter filhos, obtêm ainda hoje com a plantação de uma árvore; uma digna recompensa e a graça de Deus.
Certos monges, como que impelidos pela máxima recompensa e por toda a graça de Deus, foram criando das mais belas florestas de sempre e que sempre souberam dignificar, abençoar e proteger. Destacando ainda todos os mais raros e notáveis exemplares de árvores.
E graças a muitos monges por esse mundo fora e pelos tempos idos, hoje somos nós, seus “filhos” e herdeiros directos, que usufruímos na graça do Senhor de toda essa enorme recompensa.
O Bussaco é um exemplo local.É a Gingko biloba ( conhecida como o único fóssil vivo entre as árvores) um exemplo mundial.
TEMOS...
Temos que dignificar o mundo rural. E se não for com obras, que o seja ao menos, por palavras.
É que depois de tanto rapa, tira, põe e deixa; o melhor mesmo será acreditar, que não é difícil fazer melhor. E se melhorarmos, estamos a contribuir para o fundamental equilíbrio e para um eficaz aumento da esperança do nosso viver. Apanhando o caminho certo. O caminho que teremos que saber trilhar a partir das oportunidades, que ainda vamos tendo.
E o que mais nos custa, é dizerem-nos que sim, que fazem, que atendem, que... nada! Não nos ligam é... nenhum. Se tiver que ser, que seja; mas ao menos, não nos façam de tansos – isso, é que não! Que nós sempre temos o nosso “status rural”; nomeadamente pela presença física de cá vivermos; de cá contribuirmos; de cá contarmos.
É que todos, no mínimo, temos direito às nossas palavras de opinião – asneira incluída, é claro!
REINVENTAR A HISTÓRIA
Quantas memórias esquecidas se perdem definitivamente na morte dos que ainda as iam lembrando e às quais, mais ninguém ligou nenhuma. Até que algum historiador mais curioso ou antropólogo mais criativo e algum outro arqueólogo mais experiente ou realizador mais reconhecido; reinvente, reformule e institua novas roupagens, a partir de um pequeno pedaço, entretanto conhecido ou de algum caco casualmente descoberto, passando a ver e a viver o seu presente, a partir da História passada e de tantas mais histórias perdidas. E que depois passamos a reconhecer como identidade e a ligar como valor. Nem que pouco tenham a ver com a Verdade, que foi já à muito esquecida!
Mas também existe uma diferença abissal e que tem a ver com as histórias de quem as vivia e que necessariamente duravam os 365 dias de cada ano. De facto, para serem bem contadas, só vivendo-as de novo, saboreando-as a plenos cinco sentidos e sofrendo-as a plenos quatro costados. Ou serão sete?
Assim, é muito mais fácil assistirmos comodamente em casa, a quem conta e descreve a História resumida com o alcance limitado e reinventado de uma longa-metragem.
OPORTUNIDADES ETERNAS
Assim, todos nós;
Portanto, o que já passou este ano, voltará no próximo ano, indubitavelmente. E todos os dias, haverá sempre muito mais para colher e sentir. Isto, desde que a não estraguemos irreversivelmente e outras tantas, de conteúdo, aferição e tamanho... de difícil recuperação.
Mas, a Natureza, está sempre capaz de nos perdoar e de nos dar todas e mais oportunidades deste mundo, para nos redimirmos – basta querermos!
DIMENSÃO
Que dimensão tem aquela pequena aldeia, para quem praticamente nunca de lá saiu? E que dimensão pode ter essa mesma aldeia para os outros?
Para os que sempre fizeram na sua aldeia a sua vida e sempre a viram, como o seu assento único; que grandeza tremenda eles conseguem obter desse seu território, tão limitado fisicamente!
Que enormidade tem toda a sua vida, para quem consegue extrair de um naco de terra tão pequena, a dimensão de todo um mundo!
Que paz de espírito, atingem na plenitude de eremita, naquele seu refúgio, reduto quase exclusivo – um tesouro único, no seu mundo tão especial!
Que sedução e cumplicidade existem entre ambos?
E que dimensão tem todo esse usufruto mútuo, que nós outros, com toda a nossa insaciável e incansável procura por todo o lado, nunca conseguiremos alcançar?
Que segredo terão guardado e que os mantêm tão firmes, dedicados e satisfeitos, na sua pequenina aldeia e por toda a vida?
Tal segredo, só pode advir do pó daquela terra ancestral e que já viu nascer e cuidar de tantos que também já foram felizes como eles.
NO CIMO DO MONTE
Será por estarmos mais perto do céu (mais altos), que nos faz elevar toda a nossa presença? Ou será, pela grandeza que representa a serra, com a dimensão maior de tudo o que a vista alcança? Ou será ainda, da pequenez que nos desperta toda a atenção, lá longe, da vida atribulada na sofreguidão barulhenta do dia-a-dia, que nos distrai e empata a “viola”? Ou será da solidão e da calmaria envolvente, que nos conforta e até, aconchega, em toda a sua magnitude? Ou talvez seja, de toda a beleza que inebria de tão estonteante e que nos faz transportar tão repentinamente e repetidamente de cá, até lá... longe!?
No fundo, não sei a resposta.
Talvez, quando lá voltar... ao cimo do monte, encontre a resposta correcta. Particularmente, quando voltar a sentir todos aqueles aromas a encher os pulmões a pleno céu, a abrir os olhos ante tamanhos cenários e “ouvendo” toda a passarada e todos os aviões, que riscam o céu por linhas rectas entrecruzadas.
CIBERESPAÇO
Pessoal, liguem-se à Internet, mas não se desliguem do mundo, OK? – disse a um conjunto de miúdos numa passagem de ano. Depois ainda querem que eles se relacionem bem com as pessoas? Até numa passagem de ano? E depois vão todos a reboque!
Os computadores e a Internet são instrumentos maravilhosos, mas a vida real, a vida vivida também o é-e ainda mais maravilhosa. Descubram-no. Não é assim tão simples, nem tão fácil e, ainda, nem tão rápido. Mas não deixa de ter as suas essenciais compensações, vitais satisfações e demais valias.
Não podemos ser escravos, nem tão pouco reféns da informática. E a informática, também não é a panaceia para tudo o que vai mal – antes fosse!
Como costumo dizer a muito boa gente que, apesar de toda a extraordinária evolução tecnológica e todo o fabuloso mundo virtual – tão grande em capacidade e potencial, e tão pequeno, hoje em dia, em distância -, ainda há muito espaço e grandes necessidades para a enxada. De facto, conseguimos fazer uma infinidade de trabalhos maravilhosos e até extraordinários a partir de um simples teclado de computador, mas também existe uma enormidade de tantos e essenciais trabalhos que só com o apoio de uma enxada ou outros instrumentos mais elementares conseguiremos executar com o devido êxito.
Caríssimos, o que pretendo transmitir é que não me venham “abanar” com mais computadores para todo o lado como forma fácil de resolver mais este ou aquele problema concreto. De facto, em muitos casos, é necessário e até fundamental; mas não podemos esquecer toas as outras etapas e trabalhos paralelos, necessários ao próprio funcionamento do objectivo pretendido. Ou seja, não podemos tapar o sol com a peneira, confundindo meios com soluções, propostas com desempenho, repetições com criatividade e ferramentas com a própria matéria-prima.
Outro aspecto é o facto de passarmos a querer fazer tudo pelo computador, como se para tudo fosse sempre a melhor e única forma de actuação, a mais fácil, a mais funcional, a mais útil e a mais económica – o que é um tremendo erro. Pois, em muitos casos, eu posso usar a caneta, o livro, os olhos, as mãos, o fax, o telefone, o... e o contacto directo, de uma forma mais rápida, mais barata e mais cómoda.
A tarefa essencial é sabermos usar a nossa cabecinha para aquilo, que com certeza será o melhor para nós e para os outros, partindo de todos os meios que temos ao nosso alcance.
Apeteceu-me hoje escrever sobre isto, porque fartei-me outra vez de demorar mais do que um tempão a querer responder a um simples inquérito, que tinha que ser enviado via e-mail – aliás, não aceitavam de outra forma. Demorei (e toda a gente se farta, quando se demora) imenso tempo, só para abrir o correio electrónico – esquecem-se que há zonas, sobretudo, em horário laboral, em que é perfeitamente desgastante ter que recorrer sistematicamente a estes meios. O que vale é que sempre vou fazendo outras coisas enquanto vou aguardando “c-a-l-m-a-m-e-n-t-e”, até que... isto, assim, não dá!. E desisto ao fim de um tempo mais que exagerado, porque tenho mais que fazer. Assim e a gastar os últimos cartuchos da paciência, desligo o computador, ainda a tentar ficar calmo. De repente, começo a fazer contas ao tempo: ora bem, já vou na quarta tentativa gorada, só para abrir e responder a um pequeno inquérito, que me demorou cerca de vinte minutos a preencher. Dessas vezes, desisti duas sem conseguir abrir sequer a página, outra vez deu erro de comunicação, outra bateu na caixa de correio cheia.
Passada uma semana de pausa, lá vêm mais uns telefonemas a solicitar a urgência da resposta, pelo que se vai ver e de facto o formato tinha que ser alterado. Ok, alteramos de acordo com o solicitado – e esta parte, até correu bem – claro que também estava com uma boa ajuda ao lado (aumentando as perdas em pessoal para a casa), só que o envio esbarra invariavelmente em erro. Surgem mais telefonemas, mais tempo perdido, mais desgaste, mais alterações, mais um terceiro elemento a ajudar e, quando convencidos do sucesso da comunicação, eis que afinal, o quadro não apareceu no destinatário. Depois de eu já ter abandonado o barco, lá ficam os outros a verificar daqui, a verificar dali e, por fim, abandonam por sua vez o computador, desanimados pelo insucesso. É obra, tanto esforço, para tantas vezes, nada!
Comigo, é pelo menos a 5:ª vez que a história se repete em pouco tempo, para destinatários diferentes e com meios e finalidades diversas. E a solução final foi quase sempre a mesma, uma vez solicitei-a eu, as outras sugeriram-me do lado de lá depois de questionadas telefonicamente. Houve desculpas, pois havia alguns impedimentos no sistema que têm que ser revistos... blá, blá, blá... blá, blá, blá... ré, réteuteu, réteuteu, réteuteu... papapá, patati, patatá... pois, pois... será então preferível enviar por fax e tirar uma fotocópias para arquivo.
Que alívio, passado um instante e sem ajuda de ninguém, lá foram os inquéritos, os trabalhos, as folhas de cálculo, os relatórios...
Chega! Sejamos mais práticos por favor. Usemos as coisas para nos ajudarem, não para nos complicarem ainda mais o trabalho e a vidinha. Por favor, criem modos fáceis e mais rápidos, mundos simples e mais práticos, modus operandi lógicos e mais eficientes. É um dos modos de ser mais estúpidos dos portugueses; somos muito dados às novidades-e muito bem-, só que, simultâneamente, abandonamos logo – e muito mal – num modo estúpido e pacóvio, próprio dos mal-agradecidos e esquecidos, todas as anteriores vantagens e serviços!
Assim e apesar das vantagens mais que óbvias da era digital, e nas versões mais modernas e actualizadas, não podemos querer abandonar assim, do pé para a mão, todas as outras alternativas funcionais de trabalho, nomeadamente para quando e ainda, por vezes, as coisas não são assim tão rápidas, assim tão funcionais, assim tão disponíveis, assim mais económicas, assim tão à mão.
Questionando muita gente sobre esta problemática, práticamente todos estamos de acordo em que tudo deve caminhar, cada vez mais e mais rapidamente, para as novas tecnologias, mas quando estas estiverem mais desbloqueadas e suficientemente simplificadas. Porque também todos concordam que, muitas vezes, passam, passam... tempos infinitos e infernais agarrados ao teclado e a tentar, tentar... fazer algo que, pelos métodos mais convencionais, já estaria resolvido há séculos – modo de dizer é claro! E, depois, a produtividade, ressente-se, ah pois ressente!
Agora já compreendo como é que temos meio pais activo e mais um quarto agarrado a um teclado, “escondidinhos” atrás de um ecrã de computador – novamente, modo de dizer, é claro! Também assim é mais fácil esconder o que estamos a fazer, protegendo-nos, deixando no ar aquela impressão de elevado desempenho, muito atarefamento e por demais importância do objecto do nosso trabalho. Aliás, tenho a sensação de que estamos todos a fazer sempre coisas demasiado importantes que depois não nos sobra tempo algum para fazermos aquilo que é mais necessário e fundamental.
Evidentemente que se está a produzir, produzir bem... e a trabalhar, trabalhar muito... e a fazer, fazer mais. Porque isto e computadores ainda não é para qualquer um! Claro que só para os mais espertos, inteligentes e criativos – ainda e outra vez, modo de dizer é claro!
Mas mesmo assim, existe algum exagero, produzindo tanto e mais no papel por imprimir, e, talvez, um tanto a menos no concreto por fazer. E, ainda, fica a faltar a organização e a acção correspondente. Todavia, vamos a caminho do bom caminho. Tem demorado é muito a encontrá-lo e , depois, ainda, viramos por cada esquina, demoramo-nos por qualquer canto e metemo-nos por cada atalho!
Mais uns anitos a ver, pesquisar, consultar, visitar, procurar, viajar e... a esperar via Internet e depois talvez estejamos capazes de fazer e criar. E com certeza também já suficientemente cansados de tanto ecrã vazio de efeitos práticos, passando finalmente a utilizá-lo sempre que necessário e muito bem, em prol da real necessidade e ao serviço do melhor desenvolvimento. Temos que ter a noção do tempo precioso que se pode estar a desperdiçar, particularmente em horas e horas a mais, mas que também pode e deve ser medido em anos e anos a menos. Ah... e também já arranjámos mais uma desculpa, nomeadamente e entre outros, o próprio Estado, que já arranjou o culpado perfeito para a série de anomalias que vão acontecendo e nos vão atrasando a vida – pois, foi culpa do sistema informático.
De facto, os sistemas informáticos são sempre falíveis, particularmente quando nos dão jeito; outras vezes, são mesmo quase infalíveis, nomeadamente quando somos suficientemente bons e eficientes. Pois o problema é que ainda não nos sabemos servir devidamente de todo aquele potencial informático e depois... a culpa é do sistema informático!
Hoje, depois de passar, passar... tanto tempo sem conseguir... passei-me – é mesmo o termo mais apropriado!
Em plena ira, contive-me, reflecti e cheguei a esta conclusão: para as pessoas, até tenho tido muita compreensão e paciência – e ainda bem – ou, talvez, até seja aquele nadinha de sorte. Mas, com as máquinas e demais equipamentos, a minha sorte deve virar mesmo, pois a paciência esvai-se e eu não me entendo lá muito bem – e ainda mal! Também face ás teimosias disfuncionais e estupidificantes das coisas... que lá metemos, ou que nos exigem. Mais vale, em muitos casos, continuarmos a ir por “portas travessas”!
Depois, passada a fase da ira, ainda tive o discernimento suficiente para chegar a outra conclusão: se o meu carro, que tem mais de 20 anos, também funcionasse assim, vendia-o logo (isto se ainda alguém oferecesse algum dinheiro por ele)!
Exigência final: computadores e Internet em todas as escolas, repartições, serviços e tudo o mais – já!
Aviso final: mas atenção, não se deixem escravizar, nem nos façam seus reféns. A vida continua a ser muito bela e simples também cá fora.
José Porvinho
José Porvinho é um (o) Anónimo José Qualquer.
José Porvinho é aquele lado de mim, que também pode estar dentro de cada um de vós (nós). Aquele pedaço dele que existe em todos os outros... assim como ele.
O José vive numa pequena terra do Interior e escreve-vos a partir daí. De um mundo rural e serrano; onde a Natureza marca pontos, mas onde as oportunidades ainda vão marcando passo.
Tenta ser um observador discreto, mas atento; anónimo, mas presente. Demonstrativo de como qualquer vida, por mais banal que transpareça e por mais anónima que conste, também tem muito para tecer e contar. Gente vulgar, mas importante.
Assume o papel de um rural convicto e faccioso e de um sonhador obstinado e renitente, que acredita no futuro e em todas as voltas que o mundo tem ainda para (nos) dar.
O LIVRO
O livro em suma, é um caderno diário com um pouco de tudo e um tanto de nada.
Um Diário de Bolso à solta e sempre disponível a captar mais um pouco do nada que nos preenche, numa perspectiva fiel e anónima sobre a vida.
Um Bloco de Apontamentos sempre pronto a ver espelhado o pensamento livre e a levantar dúvidas circunstanciais sobre nós, os outros e ele próprio.
É um documento apartidariamente político e socialmente intencional. Um estranho retrato do dia-a-dia; no mundo, no nosso país, na nossa terra, na nossa casa e com a nossa consciência. Num tudo a nu comprometedor, mas assumido.
Inconfidências e ... são: inconfidências e observações; imprevistos e provocações; composições e abstracções; questões e desabafos. De tudo um pouco, numa partilha de momentos e de histórias.
Melhor Posição
Na paz, assim como na assunção do melhor da vida, todos os mais importantes e mais poderosos, estão sempre na linha da frente. Se necessário, ultrapassando e metendo-se à frente de todos nós e em todas as situações. E “o povo povinho é verbo de encher”!
Na guerra, assim como na assunção do pior da vida, todos os mais importantes e mais poderosos, estão sempre na linha da retaguarda. Se necessário, empurrando e escondendo-se atrás de todos nós e em todas as situações. E “o soldado soldadinho é carne para canhão”!